Aescravidão não está restrita aos livros de história colonial. Atualmente, cerca de 24,9 milhões de pessoas são submetidas a trabalhos forçados. Mundialmente, a exploração da mão de obra não é mais tolerada pelas leis ou pela opinião pública. Se ocorre em tamanha escala, é pela falta de informação ao consumidor, que acaba financiando crimes sem saber. Em busca de mais transparência na fabricação de roupas e calçados, a organização não governamental KnowTheChain avaliou e classificou 43 empresas, conforme a preocupação com a cadeia de produção. Segundo o relatório, de um total de 100 pontos possíveis, a média ficou em apenas 37.
O setor de vestuário é um grande foco de trabalho escravo. Tem mecanização relativamente baixa, demanda mão de obra pouco qualificada e conta com um rico mercado consumidor, ávido por quantidade e variedade. Da matéria prima ao acabamento, as cadeias de produção são complexas e pouco rastreáveis.
A Adidas conseguiu a melhor nota: 92. O bom desempenho se deve aos cuidados com o recrutamento de pessoal e proteção a imigrantes – como ao dar treinamento sobre ética na gestão de funcionários, a 100 fornecedores na Ásia. A marca proíbe seus prestadores de serviço de subcontratarem outros prestadores, numa cadeia sem fim. Nike e Puma conseguiram índices 63 e 61 – distantes da Adidas, mas consideravelmente acima da média. Isso mostra como as marcas de material esportivo aumentaram o cuidado com a qualidade da mão de obra, após décadas de denúncias de trabalho irregular. Aparentemente, a pressão dos consumidores surtiu efeito.
Igualmente pressionadas pela opinião pública, marcas de fast fashion tiveram bom desempenho: Gap e Banana Republic conseguiram a terceira melhor nota do ranking (75), a inglesa Primark tirou 72 e a sueca H&M, 65. Segundo a ONG, essas empresas dão treinamento contra o trabalho escravo – mas podem evoluir no conhecimento pleno da cadeia de produção, desde a matéria-prima.
Os piores resultados vieram de grifes de luxo. A Prada obteve apenas 5 pontos. A Hermés conseguiu 17, o grupo LVMH (de marcas como Fendi, Rimowa e Christian Dior) tirou 14 e a Salvatore Ferragamo, 13. As razoáveis exceções foram Burberry (com índice 52), Ralph Lauren (58) e Kering (das marcas Gucci, Balenciaga e Saint Laurent), com 45. O mau desempenho mostra como até fábricas na Europa, frequentemente usadas por essas grifes, estão sujeitas a trabalho forçado, jornadas insalubres e salários indignos.
A pesquisa desmente o mito de que boas condições de trabalho tornam o produto final necessariamente caro. A correlação mais clara está menos no preço da etiqueta e mais na vigilância do consumidor.