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BAILARINAS DE REALENGO VÃO PARTICIPAR DE FESTIVAL INTERNACIONAL DE DANÇA NA ARGENTINA
A mineira Kathleen Guimarães tinha acabado de se mudar para a comunidade do Batan, em Realengo, há seis anos, quando conheceu o Estúdio de Dança Fernanda Gonçalves. Contemplada com uma bolsa de estudos, a jovem passou a frequentar as aulas de balé e jazz. O que começou como hobby virou coisa séria. Hoje, ela é uma das nove dançarinas da escola que estão de malas prontas para embarcar para a Argentina.
Com idades de 12 a 23 anos, elas vão representar o Brasil no 25º Festival de Danças do Mercosul, que acontece na cidade de Puerto Iguazú, no mês que vem.
O talento das jovens chamou a atenção de um olheiro do festival, que acompanhou uma mostra de dança interna do estúdio, no mês passado. Ele ficou tão satisfeito com o que viu que selecionou as meninas para a competição sem precisar passar pelas etapas preliminares.
— É legal a gente fazer a diferença e mostrar que não é só na Zona Sul que é possível ter oportunidades e reconhecimento por um bom trabalho. Aqui na nossa região é mais difícil, mas não é impossível — comemora a fundadora do estúdio de dança, Fernanda Gonçalves.
Nascida e criada em Realengo, Fernanda começou a dançar aos 3 anos. Aos 15, passou a dar aulas em um colégio da região, por indicação de uma professora. Depois disso, passou a ser convidada para trabalhar em outros lugares e iniciou sua formação pela Royal Academy of Dance, de Londres. Há dez anos, decidiu abrir o próprio estúdio. No início, o espaço funcionava dentro de uma academia. Com o crescimento da demanda, foi necessário, no entanto, encontrar um espaço maior.
— Tenho dois ex-alunos que já rodaram o mundo com a dança, e, hoje, trabalham na Tunísia. Outro ganhou uma bolsa para o Miami City Ballet e passou para a escola Bolshoi, em Joinville. Temos muitos talentos na nossa região, e acho que é fundamental dar a esses jovens a oportunidade de sonhar — diz Fernanda.
Para Kathleen, de 23 anos, a dança foi um sonho que se tornou realidade. Após mostrar talento nos primeiros passos no estúdio de Fernanda, ela passou a ser treinada e hoje é professora na escola.
— Eu respiro dança, estou aqui o dia inteiro — conta ela, que vai apresentar uma coreografia solo no 25º Festival de Danças do Mercosul.
Outra dançarina que vai apresentar coreografia solo é Nicolle Brum. Aos 18 anos, ela concilia os treinos na academia com a faculdade de Farmácia.
— No ano passado, participei do festival de dança Expressão e Arte, aqui no Rio, e fiquei em segundo lugar no clássico livre. Mas essa será a minha primeira vez em um festival internacional, então estou muito ansioa — afirma a jovem, que dança desde os 3 anos de idade.
Uma das caçulas do grupo é Gabriela Santiago. Aos 12 anos, ela nunca viajou nem para fora do estado e não esconde o nervosismo de subir pela primeira vez em um avião para fazer uma viagem internacional e competir com dançarinas do Uruguai, Argentina e Paraguai.
— Para se preparar melhor, tenho treinado todo dia nos últimos meses — diz ela, que vai participar das três coreografias em grupo que serão apresentadas pelas jovens.
Contagiadas pela empolgação das filhas, as mães também se envolveram com o desafio. Para viabilizar a ida do grupo, cada uma deu a sua contribuição. Uma começou a fazer empadões em casa e vender na rua, outra organizou venda de rifas e uma terceira pôs seus dons de alfaiataria a serviço do figurino das bailarinas mirins.
— O nosso país está passando por momento em que ninguém está muito bem financeiramente, então as mães se mobilizaram — conta Fernanda.
Gabriela Gomes, de 13 anos, é uma das que começou a dançar mais cedo. Ela tinha 2 anos e meio quando deu os primeiros passos, ainda na creche. Desde 2017, ela tem aulas com Fernanda Gonçalves. Com experiência em festivais nacionais, ela não esconde a ansiedade para, pela primeira vez, disputar competição em solo estrangeiro:
— Estamos contando os dias para a viagem. Não conhecemos nada das outras competidoras. Até olhamos coisas na internet para termos uma noção, mas não dá para conhecer. O desafio é focar nas coreografias para podermos dar o nosso melhor.
O grupo chega à Argentina no dia 5 e as apresentações começam já no primeiro dia. O festival vai até o dia 8 de setembro