É que ganhou um herdeiro do segundo casamento, está envolvido na escolha do enxoval, no anúncio do jornal, em fumar charuto com o sogro e com aquela vaidade suprema de ostentar para a sua esposa que é experiente e sabe segurar a criança.
Ele apaga a casa anterior com o que havia dentro dela e apega-se à casa recente. Entende que a criança ou adolescente cresceu o suficiente para não depender mais dele.
Nenhum filho cresce o suficiente para ser órfão de repente, não importa a idade.
Aquele filho a quem amava e criava com zelo, a quem aconselhava e trocava as fraldas passa a existir somente como uma pensão, uma linha do seu contra-cheque.
Não pergunta. Não telefona. Não se encontra fora de hora. Está muito ocupado criando um bebé.
O que dá para entender é que ele não ama o filho, mas a mulher com quem se encontra no momento.
Faz qualquer coisa para agradá-la, inclusive negar a paternidade do primeiro casamento.
É do tipo ou tudo ou nada, ligado à figura masculina patriarcal, que oferece e tira conforme as suas vantagens.
Não é bem um pai, mas um latifundiário emocional, desconfiado, sob permanente ameaça de invasão de suas terras.
Mãe é diferente, sempre se elogia quando menciona o seu filho.
Mareja os olhos ao mexer na gaveta das camisas, colecciona bilhetes e desenhos, inventa uma porção de neologismos no abraço.
Não se guarda para depois, para um melhor momento, está disposta a conversar pressentimentos e costurar recordações.
Pai costuma omitir-se no momento do desabafo. É comedido demais para estar vivo. Troca de personalidade, de residência, de amor, o que precisar, no sentido de prevenir a sobrecarga de problemas.