Dos 13 milhões de brasileiros desempregados no terceiro trimestre deste ano, 8,3 milhões (63,7%) eram pretos ou pardos. É o que aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgada nesta sexta-feira (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o IBGE, o dado indica que a taxa de desocupação dessa parcela da população ficou em 14,6%, enquanto a da população branca ficou em 9,9%.
“As pessoas pretas e pardas estão sempre em desvantagem no mercado de trabalho, desde a inserção a depois de se inserir. São desigualdades que a gente já conhece, mas é sempre bom lembrar”, diz Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
A situação de desemprego dos pretos e pardos contrasta com os números do mercado de trabalho. De acordo com o IBGE, esta parcela da população representa mais da metade dos trabalhadores brasileiros (53%).
Mesmo sendo maioria na força de trabalho, a proporção de pretos e pardos ocupados (52,3%) foi menor que a da população branca (56,5%) no terceiro trimestre.
“Estamos falando de uma população que tem origem afrodescendente, que entrou no país através da escravidão. Em 100 anos de libertação dos escravos, esta pesquisa mostra que existe desigualdade ainda expressiva no país”, disse Azeredo.
Segundo o pesquisador, essa raiz histórica da população preta e parda “gera esse contexto de falta de oportunidade”.
Ele lembrou que, dentre os pretos e pardos, “muitos não têm acesso a escola, educação, e isso tem consequências diversas”, como a presença desta população em postos de trabalho que exigem pouca formação e em grupamentos de atividade com menor remuneração. “O poder de compra dessa população acaba sendo menor.”
Diferença de salários
O contraste racial no mercado de trabalho se estende, também, à remuneração. Segundo o IBGE, pretos e pardos recebem, em média, R$ 1.531 – quase a metade do rendimento médio dos brancos, que é de R$ 2.757.
Situação semelhante é observada no percentual de trabalhadores com carteira assinada no país. Pretos e pardos nesta condição somavam 71,3%, abaixo do observado no total do setor (75,3%).
Dos 23,2 milhões de pretos e partos empregados no setor privado no país no terceiro trimestre deste ano, 16,6 milhões tinham carteira de trabalho assinada. Foi o menor contingente nesta condição desde o 3º trimestre de 2012, quando pretos e pardos somavam 16,4 milhões de empregados com carteira de trabalho assinada.
O pico na série histórica desta parcela da população foi observado no quarto trimestre de 2014, quando somou 17,9 milhões.
Segundo o pesquisador, a Pnad já vem mostrando que está aumentando a geração de postos de trabalho sem carteira de trabalho assinada e em grupos de atividades com menor qualidade de trabalho, em termos de renda e outras características. “Os indicadores mostram que a população preta e parda acaba sendo mais direcionada a estes trabalhos.”
Trabalho informal
“Está crescendo mais a ocupação dos pretos e pardos em relação à população total. Isso está relacionado com o aumento do trabalho informal”, ponderou Azeredo. “Mais de um quarto dos trabalhadores de cor preta ou parda estão ocupados por conta própria, o que indica o trabalho informal”, destacou Azeredo.
De acordo com a pesquisa, o percentual desta população com este tipo de ocupação somou 26,1% no primeiro trimestre deste ano. Em 2014, somava 24,9%.
O IBGE destacou, ainda, que havia no terceiro trimestre deste ano 1,8 milhão de ambulantes no país. Deste total, 1,2 milhão eram pretos ou pardos, o que representa 66,7%.
Trabalho doméstico
De acordo com o levantamento do IBGE, a ocupação da população preta e parda superava a da população branca em quatro dos dez grupos de atividade pesquisados pelo instituto: na agricultura, na construção, nos serviços de alojamento e alimentação e, principalmente, nos serviços domésticos.
A distribuição percentual dos trabalhadores entre grupos de atividades mostra que 8,5% do total de negros e pardos ocupados no país atuavam com serviços domésticos, enquanto 5% do total da população branca ocupada atuava na mesma área.
Em contrapartida, do total de brancos ocupados no país, 19,2% estavam na administração pública, contra 15,6% representados por pretos e pardos.
Fonte: G1