Falta de respeito, intimidação e agressão verbal, quase física, por parte de alguns frequentadores de bares e restaurantes pela cidade. É o que a Vigilância Sanitária e a Guarda Municipal do Rio têm enfrentado na reabertura desses empreendimentos — que ficaram fechados por mais de três meses na pandemia do coronavírus — nos últimos dias, ao tentar conscientizar, fiscalizar e multar possíveis irregularidades nesses estabelecimentos.
Na noite desse domingo, o “Fantástico”, da TV Globo, mostrou uma inspeção da Vigilância Sanitária, em comércios da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, que terminou em agressão verbal aos servidores da prefeitura. No local, muita gente sem máscara, aglomeração e clientes tentando impedir a fiscalização municipal.
Nesta segunda-feira, ao EXTRA, o superintendente de educação e projetos da Vigilância Sanitária, atacado por um grupo de frequentadores, afirmou que “a atitude deles manchou a imagem do carioca e dos estabelecimentos do Rio”. A fiscalização aconteceu por volta de 21h de sábado, dia 4.
Ao chegarem ao espaço, agentes da Vigilância Sanitária e da Guarda foram hostilizados por frequentadores. Nem mesmo diante das câmeras, um casal de cliente se inibiu. Sem nenhuma cerimônia, a dupla que se apresentou como consumidores do espaço, atacou o médico-veterinário Flávio Graça, superintendente de educação e projetos da Vigilância Sanitária que conduzia a operação.
— Você não vai falar com o seu chefe, não? — perguntou o homem a Flávio, dando a entender que ele pagava o salário do superintendente.
Na mesma sequência a mulher interrompe a conversa e afirma:
— A gente paga você, filho.
No momento da confusão, Flávio tentou explicar ao casal que existiam diversas irregularidades no espaço e que os frequentadores não poderiam ficar aglomerados para evitar uma contaminação em massa. Pelo decreto da Prefeitura, cada mesa com as cadeiras devem ficar com pelo menos dois metros de distancia umas das outras. Ao informar a determinação, o cliente alterado disse:
— Cadê a sua trena? Eu quero saber como você mediu as pessoas.
Por fim, ao chamar o homem de cidadão, o ataque por parte da mulher:
— Cidadão, não. Engenheiro civil formado e melhor que você.
Naquele dia, o espaço onde o casal estava foi multado e o dono teve que fechar o bar. Após a veiculação da reportagem, Flávio — que é mestre e doutor pela Universidade Federal Rural do Rio (UFRRJ) — conversou com EXTRA e lamentou a atitude da dupla. Ainda segundo o superintendente, outro homem, que num primeiro momento se apresentou com advogado do estabelecimento, quis parar a inspeção. Não conseguiu. Logo depois, o advogado teria ido aos policiais militares que acompanhavam a ação e teria dito que era ele delegado e que a fiscalização tinha que ser suspensa. No entanto, a ação seguiu.
— Naquele dia, nós encontramos uma grande aglomeração no estabelecimento. Eu sempre registro, com um celular a ação, para dar legitimidade. Quando eu comecei a gravar, as pessoas começaram a se levantar. Não só aquela moça, mas outro rapaz. Eles vieram e disseram quem eu não tinha direito de gravá-los e pediram direito à imagem. Logo em seguida, falaram que iriam anotar o meu nome — afirma Flávio.
— Posteriormente, começaram a falar palavrões, todos muito agressivos. Aquelas agressões não me atingiram, porque ali estou representando o estado para proteger a vida deles. Mas quando um deles chegou com o celular perto do nariz do repórter e iria agredi-los, eu disse que se ele encostasse no jornalista eu iria dar voz de prisão e levá-lo para a delegacia — afirmou o superintendente.
“Ela achou que cidadão é ofensa e não é”
Ainda na confusão, um homem que se apresentou representante do estabelecimento apareceu.
— Um rapaz apareceu e disse que era um dos advogados (do espaço), tentando nos intimidar e disse que era para parar a inspeção. Eu disse que não iriamos parar de fiscaliza. Então, ele foi aos PMs que nos ajudavam e pediu pra me levarem para a delegacia. Naquele instante ele se apresentou como delegado. Os militares disseram que a Vigilância Sanitária não estava fazendo nada de errado e só estava cumprindo a legislação — destacou Flávio.
Indagado se ficou ofendido com os ataques dos frequentadores, o representante da Vigilância Sanitária é categórico:
— Não cabe mais no Brasil o “Você sabe com quem está falando?”. Isso está ficando cada vez mais banido. Todo cidadão contribui com seus impostos para justamente, nós protegê-los. Esse foi o princípio da cidadania que eles não exerceram. Ela achou que cidadão é ofensa e não é. Quando eles falam aquilo, não nos atingem. Todos são formados e com curso superior. Ficou feio para ela, para a imagem do carioca, fica ruim para o estabelecimento, porque ele não representa a maioria dos estabelecimentos que sofreram tanto pela pandemia. Uma classe que foi arrasada e agora muitos tentam retornar e aquilo mancha a classe da categoria. A Vigilância está a postos para proteger a sociedade do mal fornecedor — diz.
As imagens que chocaram o país, segundo a Vigilância Sanitária, têm sido rotineiras nos últimos dias. No entanto, o órgão tem feito uma capacitação em seus agentes para não cair em provocação.
— Temos encontrado, principalmente nos últimos dias, pessoas que não estão entendendo o nosso papel. Estamos ali para defendê-las. Mas, infelizmente, no Brasil a gente não tem a cultura de prevenção. Muitos não gostam da fiscalização e se sentem agredidos. E muitas das vezes vão contra nós. Então, fazemos uma capacitação psicológica e técnica para estabelecer um padrão técnico durante as abordagens. Somos orientados a não responder as agressões. Quem está agredindo não estão agredindo o fiscal. A pessoa por estar errada, ela tenta desvia o foco do problema, tentando desestabilizar o fiscal. Então, dizemos que não é para eles revidar a essa armadilha. Não queremos rebaixar a aquele nível. Quem está errado que fica nervoso — afirmou Graça.