No centro de distribuição os cigarros eram repassados para os integrantes do grupo conhecidos como operadores, que são os responsáveis pela entrega do produto aos comerciantes finais (vítimas de extorsões e roubos). Nas áreas de influência do bando, os comerciantes finais eram, então, constrangidos, mediante grave ameaça, a somente adquirirem as marcas comercializadas pelos criminosos, assim como observar o tabelamento de preços por eles determinados.
A organização se utilizava de fiscais e seguranças para ameaçarem comerciantes que vendem marcas que não aquelas autorizadas pelo bando, bem como aqueles que compram cigarros de pessoas não ligadas aos criminosos e/ou descumprem o “tabelamento” de preços.
Aqueles comerciantes que, nas áreas de influência do bando, optavam por vender cigarros diversos daqueles comercializados pela organização, tinham suas mercadorias apreendidas, e recebiam ameaças.
Estrutura da organização
Os irmãos Adilson Oliveira Coutinho Filho, o Adilsinho, e Claudio Nunes Coutinho são os “patrões” e líderes da organização criminosa. Os dois são primos de Helinho, presidente de honra da Grande Rio. Também ocupa a função de “patrão”, mas em menor grau, Pedro Henrique Pinheiro Carvalho.
Os “patrões” são os responsáveis pela gestão do esquema criminoso e destinatários finais dos lucros obtidos com as atividades espúrias, além de empenharem suas empresas no exercício da atividade criminosa. Na qualidade de gestores do esquema criminoso, Adilsinho e Claudio Nunes Coutinho lotearam as áreas de atuação do bando, sendo cada irmão Coutinho responsável por determinadas áreas.
Cada “patrão” comercializava de 600 a até mais de mil caixas de cigarros por mês, levando-se em conta apenas o centro de distribuição situado no “escritório”. Assim, o montante de unidades de cigarros comercializadas pelo bando, levando-se em conta apenas o “escritório” de Duque de Caxias, alcança a marcas que ultrapassam a 10 milhões de cigarros por mês.
Ainda de acordo com o relatório do MPRJ, o segundo escalão da organização criminosa é dividido entre João Ribeiro de Oliveira, irmão de Helinho, Marcio Roberto Braga e o policial militar Wallace Soares Gonçalves, o Cabeça ou Kbça, ao todo, seis policiais militares estão entre os denunciados.
Na divisão dos lucros, os membros de primeiro escalão levavam 70% e os de segundo escalão ficavam com 30%. O faturamento entre os meses de setembro de 2019 e fevereiro de 2020 totalizou R$ 9,3 milhões, com média mensal de mais de R$ 1,5 milhão. Desde 2019, até os dias atuais, a organização faturou mais de R$ 45,1 milhões.
Envolvimento com a milícia e tráfico
Outro modo de atuar do bando, característico de suas extorsões, é a realização de parcerias com outras organizações criminosas, sejam elas ligadas ao tráfico de drogas ou a milícia, se valendo da
estrutura de medo e coação que tais grupos exercem em suas áreas de domínio, para obrigar os comerciantes daquelas áreas a, apenas, venderem as marcas e cigarros do grupo.
Segundo a denúncia do MPRJ, a parceiria entre as organizações criminosas fica clara em ligações entre os acusados, onde citam áreas de domínio da milícia. Em um dos áudios, Francisco Sergio Simões, o Serginho, relatou seu encontro com milicianos para o acusado Henrique da Silva Turques. Membros dos primeiros escalões do bando também estão envolvidos com a exploração do jogo do bicho, de bingos e máquinas caça-níquel.
Denúncia de ex-integrante
Segundo a denúncia feita pelo MPRJ, a investigação ainda contou com provas obtidas através de acordo de colaboração premiada celebrado com um ex-integrante da organização criminosa. O colaborador era comerciante de bebidas, comidas e cigarros em Duque de Caxias e, inicialmente, foi vítima dos criminosos, pois teve cigarros “apreendidos” (roubados) pelo bando e passou a ser obrigado, mediante grave ameaça, a vender os produtos da organização criminosa.