O caso da menina de 12 anos sequestrada após marcar um encontro pela internet com um homem de 25 anos preocupa pais, responsáveis e reacendeu um alerta sobre os perigos na Internet sem controle. Segundo a pesquisa mais recente da TCI Kids Online Brasil, feita pela Cetic.br, 93% dos brasileiros com idades entre 9 e 17 anos são usuários de Internet, o que corresponde a 22,3 milhões de crianças e adolescentes conectados. Ao DIA, especialistas explicaram os principais riscos e as formas de prevenir.
Antonio Carlos Marques Fernandes, especialista em direito digital, alerta que todos os usuários estão sujeitos a golpes, mas que os cuidados devem ser redobrados com crianças e adolescentes, principalmente nas redes sociais.
“Dentre os problemas mais comuns, são reportados acesso a conteúdo malicioso e inapropriado para idade; contato com pessoas abusivas e/ou mal-intencionadas; falta de zelo para uso de aplicativos inseguros em dispositivos móveis; e a rede social para crianças. Nesse nicho pode ser acessado todo tipo de conteúdo, não é incomum acesso a itens maliciosos e links que possam colocar a pessoa em estado de vulnerabilidade por esse meio (rede social)”, disse.
O advogado salientou também que a sociedade deve procurar se educar tecnologicamente. “É preciso que as pessoas entendam o mínimo de proteção para a não prospecção de dados, para que não sejam portais para exposição e contaminação por intermédio de Phishing (forma popular de crime cibernético por meio de e-mail, mensagens e links). Uma sociedade educada e com noção do que é a rede mundial de computadores evitaria a maioria dos golpes, crimes e fraudes”, disse.
O especialista acredita ainda que não há meios seguros para uso de redes sociais em idade precoce. “A criança fica exposta a conteúdos que são denominados ‘temporários’ ou bomba, que somem logo em seguida a abertura do link/video/foto. Com isso pode ter acesso a tais mensagens e automaticamente se coloca em situação de risco, por medo, vergonha e manipulação”, relatou.
De acordo com a psicóloga Janice Linhares, a principal forma de prevenir golpes pela Internet são os pais abrirem espaço para um diálogo frequente com seus filhos.
A psicóloga relata que é fundamental explicar para esse público que existe pessoas ruins e má intencionadas. Ela considera importante também avaliar a faixa etária da criança ou adolescente antes de fornecer acesso a redes sociais.
“Devemos avaliar a maturidade das nossas crianças, será que eles têm condição de lidar com isso (rede social)? De fazer um bom uso? Isso tem que ser avaliado. Além disso, também precisamos avaliar o tempo nas telas, que eles usem depois de fazer seus afazeres”, enumerou.
“As crianças e os adolescentes ainda não têm maturidade ou capacidade de entender as consequência dos seus atos. Isso porque o cérebro ainda está passando por uma reorganização. O adolescente busca o prazer e a recompensa como adulto, mas ele ainda não está maduro o suficiente para lidar com as consequências. Se não houver um espaço de diálogo, é capaz da gente não saber o que está acontecendo com eles”, finalizou.
De acordo com a última pesquisa do TIC Kids Online Brasil, publicada em agosto do ano passado, cerca de 78% dos usuários de Internet com idades de 9 a 17 anos acessaram as redes sociais. Para a coordenadora do projeto Luísa Adib, a internet pode trazer benefícios para crianças e adolescentes se os pais mantiverem um acompanhamento do uso dos celulares ou computadores.
“A gente sabe que participação online cria uma série de oportunidades para entretenimento e socialização, então existem sim um benefício que vem a partir da participação de um ambiente online. Mas claro que elas estão expostas a uma série de riscos, como contato a conteúdos sensíveis e pessoas desconhecidas. Por isso o uso tem que se acompanhado, tanto por pais e responsáveis quanto por educadores”, explicou.
A psicóloga Angela Donato Oliva, do Instituto de Psicologia da Uerj, explica a diferença entre monitorar, vigiar e punir. Ela alertou que a punição de forma rigorosa não ajuda na proteção.
“Não é só punir a criança e dizer: ‘Não faça isso’. É se fazer presente, é conversar, essa vigilância não é sinônimo de punição, é necessário criar diálogos, porque quanto mais proíbe, mais elas fazem e podem até querer fugir de casa. É preciso criar alternativas, por exemplo: ‘Olha, você ajuda a mamãe a não cair em um golpe e a gente te ajuda’. É deixar ela com liberdade para contar caso aconteça algo”, diz.
Angela também falou sobre o controle que os pais devem ter com o que os filhos fazem nas redes sociais.
A especialista informou ainda que as pessoas precisam entender que a infância é longa e que é preciso um acompanhamento muito próximo a um monitoramento.
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