O detento Edilson Borges Nogueira, conhecido como “Birosca”, de 44 anos, foi assassinado a golpe de estilete na manhã desta terça-feira (5) na Penitenciária Maurício Henrique Guimarães Pereira, a P2, em Presidente Venceslau. Segundo o G1 apurou junto à Polícia Civil e ao Ministério Público Estadual (MPE), Birosca era ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e os dois outros presos indiciados em flagrante pela morte também pertencem à mesma facção criminosa.
A P2 é a unidade para onde são destinados chefes do grupo presos no Estado de São Paulo. Um inquérito policial já foi instaurado para apurar as circunstâncias e a motivação do crime.
Birosca exerceu até 2016 uma função de liderança na cúpula do grupo conhecida como “Sintonia Final”, mas acabou afastado do comando da facção neste ano devido a divergências entre familiares de presos.
De acordo com o Boletim de Ocorrência registrado pela Polícia Civil, houve uma discussão entre os três detentos durante o banho de sol dos presos do Raio 2, por volta das 9h10, e Birosca acabou ferido com um estilete.
O agente penitenciário que naquele momento estava no Mirante de Observação do pavilhão percebeu que em frente ao banheiro coletivo, onde vários presos faziam exercícios de musculação, começou uma luta entre três detentos.
Segundo o agente penitenciário que testemunhou o crime, o preso identificado como Gilberto Sousa Barbosa Silva, o “Caveira”, de 46 anos, golpeou Birosca. Um outro detento, identificado como Danilo Antônio Cirino Félix, de 29 anos, segurava a vítima pelo pescoço, impedindo-a de se defender.
O agente, então, avisou o chefe do turno, que acionou o Grupo de Intervenção Rápida (GIR), da Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo (SAP).
Com a chegada do GIR, os detentos foram contidos no interior da cela, onde tentaram se esconder após o crime.
‘Rápida e fatal’
Segundo o BO, os agentes não tiveram tempo de impedir a ação, que foi “rápida e fatal”.
Os presos Danilo Antônio Cirino Félix e Gilberto Sousa Barbosa Silva foram autuados em flagrante por homicídio qualificado com a utilização de recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
Segundo a Polícia Civil, “há nesta etapa urgente de cognição sumária a materialidade delitiva e fortes indícios de autoria, esta verificada pelo relato uníssono e harmônico dos agentes que presenciaram a ação e foram categóricos ao identificar os acusados […] como sendo os autores da agressão que tirou a vida da vítima”.
A Polícia Civil compareceu à penitenciária para colher as informações preliminares sobre o crime. O local foi isolado para a perícia realizada pelo Instituto de Criminalística (IC). Além disso, também foi solicitado o exame necroscópico da vítima através de um médico legista.
O delegado seccional da Polícia Civil em Presidente Venceslau, Mauro Shiguetoshi Chiyoda, explicou ao G1 que um inquérito já foi instaurado para apurar o caso. O prazo para a conclusão das apurações é de dez dias, já que os envolvidos na morte estão presos.
Segundo o delegado, os dois presos indiciados pelo crime permaneceram calados e não falaram nada sobre a motivação da morte de Birosca.
Uma das hipóteses levadas em consideração pela polícia é a de que o crime tenha sido premeditado, já que a vítima foi golpeada com um estilete.
De acordo com a SAP, a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau conta atualmente com 813 presos, embora tenha capacidade para receber 1.280 detentos.
Segundo o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que trabalha no Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual, a P2 de Presidente Venceslau é considerada uma unidade prisional de segurança máxima.
“É uma das penitenciárias mais seguras do Estado para a contenção de presos de altíssima periculosidade. É reservada aos presos mais perigosos”, afirmou ao G1.
‘Sintonia Final’
O promotor de Justiça Lincoln Gakiya explicou ao G1 que Birosca exerceu até o ano passado uma função de liderança na cúpula do grupo criminoso conhecida como “Sintonia Final”. No entanto, ele foi afastado do comando da facção neste ano devido a divergências entre familiares de presos.
Gakiya não acredita que o afastamento de Birosca da cúpula tenha sido a motivação de sua morte.
“Ele tinha prestígio com os demais presos. O afastamento não seria o motivo para a morte dele. Até porque existe uma convivência entre ex-integrantes da facção. Ele era um preso importante. Era dono do tráfico de drogas na região de Diadema [SP]”, afirmou Gakiya ao G1.
Um dos focos das investigações, segundo o promotor, consiste em esclarecer se a cúpula do grupo autorizou ou não a morte de Birosca.
“Que alguém deu ordem, com certeza. Precisamos apurar se a cúpula autorizou ou não. Acredito que no decorrer da semana conseguiremos esclarecer isso. Para mim, os dois presos indiciados pela morte são os executores. Vamos investigar quem foi o mandante. Na P2, todos são ligados ao PCC. São presos de altíssima periculosidade”, salientou Gakiya ao G1.
Regime Disciplinar Diferenciado
A Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo informou ao G1 que irá solicitar ao Poder Judiciário a internação dos presos envolvidos na morte de Birosca no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), que funciona no Centro de Readaptação Penitenciária (CRP), em Presidente Bernardes.
Além disso, segundo a SAP, a assistência social da unidade entrará em contato com a família de Birosca para comunicar o falecimento do preso.
Segundo a pasta estadual, os agentes de segurança penitenciária da P2 perceberam, durante o banho de sol dos presos, um tumulto em um dos pátios, por volta das 9h.
“Ao se aproximarem, identificaram que três detentos estavam em luta corporal. Imediatamente foi solicitado o apoio do Grupo de Intervenção Rápida (GIR), que fica alocado na unidade. Quando o GIR separou o tumulto e foi encaminhar os presos de volta para o raio, os servidores perceberam que o detento Edilson Borges Nogueira havia ido a óbito”, relatou a SAP.
“Foi comunicada a Polícia Militar, registrado o Boletim de Ocorrência e solicitado o comparecimento da Polícia Científica para realização de perícia no local. Além disso, a unidade abriu Procedimento Apuratório Disciplinar e Preliminar para averiguação dos fatos”, ressaltou a secretaria ao G1.
FONTE: G1