Na mais recente saga de fugitivos no Brasil, completa-se hoje a marca de 49 dias desde a grande evasão da penitenciária federal de Mossoró, evento que tem deixado autoridades de cabelo em pé e contribuintes com a mão no bolso. Numa corrida frenética contra o tempo e a esperteza alheia, o governo federal já viu mais de R$ 2,5 milhões evaporarem em operações de busca que, até agora, parecem buscar mais a esperança do que os próprios fugitivos.
O buraco negro financeiro criado pela fuga não é brincadeira. Entre voos rasantes de helicópteros, operações terrestres que mais parecem retiradas de filmes de ação e uma quantidade de café consumida que faria qualquer barista tremer, a Força Nacional desembolsou sozinha R$1,2 milhão entre os dias 20 de fevereiro e 21 de março. O montante gasto nesse período levanta a questão: estamos financiando a busca ou a fuga?
Não se pode negar o esforço e a dedicação das forças envolvidas. Contudo, com quase dois meses de busca e um orçamento que já poderia ter patrocinado pequenas produções cinematográficas, o brasileiro começa a se perguntar se o roteiro desse drama não está um pouco desgastado. Enquanto as operações continuam a todo vapor, a população observa, entre a incredulidade e o humor, o desenrolar de uma trama que parece não ter fim.
A fuga de Mossoró, por seus números e duração, inscreve-se na crônica nacional não apenas como um desafio logístico e estratégico, mas como um episódio quase folclórico. Afinal, não é todo dia que um grupo de indivíduos consegue colocar o sistema em xeque, desencadeando uma operação de busca que mais parece uma maratona de obstáculos burocráticos e financeiros.
Em meio a discussões sobre segurança pública, eficiência governamental e fiscalização de gastos, fica a reflexão: até que ponto a busca incessante justifica os recursos despendidos? A saga dos fugitivos de Mossoró, embora marcada pela seriedade da situação, acaba por revelar as ironias e paradoxos de um sistema que, ao perseguir a ordem, encontra-se em constante corrida contra suas próprias limitações.
À medida que o 50º dia se aproxima, uma certeza permanece: a fuga da penitenciária de Mossoró já entrou para a história, não apenas pelos que escaparam, mas pelo preço que todos estamos pagando. E enquanto os dias passam, com ou sem capturas, uma lição fica clara – a liberdade, especialmente a alheia, vem com um preço alto, e neste caso, é o contribuinte quem assina o cheque.