Nas intrincadas teias políticas do Rio de Janeiro, a figura do Delegado Alexandre Ramagem, pré-candidato pelo PL à prefeitura carioca, emerge com contornos polêmicos. Na última quarta-feira, dia 10, o deputado federal votou favoravelmente à soltura de Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), preso sob a acusação de ser um dos mandantes do brutal assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) em 2018. A decisão de Ramagem destaca-se num momento onde ele se posiciona como figura central na próxima corrida eleitoral municipal.
Chiquinho Brazão, junto ao irmão Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, e Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil, foram presos em uma operação conduzida pela Polícia Federal em março. A operação apontou os irmãos Brazão como possíveis mandantes do homicídio que chocou o país e desencadeou uma série de investigações sobre corrupção, milícias e o envolvimento de políticos no Rio.
Apesar do voto de Ramagem e do suporte massivo de seu partido, que inclui a figura do ex-presidente Jair Bolsonaro, a maioria da Câmara dos Deputados decidiu manter a prisão preventiva de Brazão, com 277 votos a favor contra 129. Do partido de Ramagem, 83 deputados votaram, com a predominância clara pela liberação do acusado — apenas sete optaram pela manutenção da prisão.
Esta decisão coloca Ramagem em um cenário delicado, especialmente considerando sua posição como Delegado e sua candidatura iminente. Por um lado, ele tenta alavancar o apoio de uma base política que frequentemente clama por medidas mais duras contra a criminalidade; por outro, seu voto pela soltura de Brazão pode ser visto como uma contradição aos seus princípios declarados de combate à corrupção e à impunidade.
No cenário eleitoral, as pesquisas atuais indicam uma liderança confortável do atual prefeito Eduardo Paes (PSD), buscando reeleição. Paes, que já criticou publicamente sua própria decisão de nomear Brazão para a Secretaria Especial de Ação Comunitária, parece se distanciar dos escândalos que agora envolvem Ramagem e seu partido. A escolha por Brazão, agora vista como um equívoco, adiciona uma camada de complexidade e desafio para Paes, embora ele permaneça o favorito nas pesquisas.
Este episódio ilustra não apenas as alianças e rachaduras dentro dos partidos políticos do Brasil, mas também sublinha a persistente influência de figuras controversas na política do Rio de Janeiro. Com a aproximação das eleições, a decisão de Ramagem pode ser um ponto de inflexão em sua campanha, potencialmente alienando eleitores moderados e aqueles que ainda clamam por justiça para Marielle Franco.
A medida que o Rio se encaminha para mais uma eleição turbulenta, os votos e as alianças de hoje moldarão não apenas o futuro político de Ramagem, mas também o panorama político em uma das cidades mais emblemáticas e desafiadoras do Brasil. A história de Marielle Franco, ainda uma ferida aberta na sociedade brasileira, continuará a testar a integridade e as intenções dos seus líderes políticos.



