A comunidade do Piraquê, localizada na região de Pedra de Guaratiba , na Zona Oeste do Rio de Janeiro encontra-se em um delicado equilíbrio de poder. Dividida ao meio pelo domínio de dois dos mais perigosos grupos criminosos do Rio de Janeiro — o tráfico e a milícia —, a tensão no local aumenta a cada dia, ameaçando a paz e a segurança de seus moradores.
Em um lado da comunidade, o tráfico de drogas se fortalece sob a liderança de figuras já conhecidas pelas autoridades. Do outro, a milícia impõe um regime de medo, cobrando taxas de segurança dos comerciantes locais e monopolizando serviços básicos, como o acesso a gás e internet. Até o momento, estes grupos têm evitado confrontos diretos, mas os sinais de uma possível colisão estão se tornando cada vez mais evidentes.
Moradores relatam que a presença ostensiva de armamentos e o aumento no número de patrulhas por parte de ambos os grupos são indicativos de que algo grande está por vir. “A gente vive no medo, não sabemos o que pode acontecer amanhã. É uma bomba-relógio”, comenta uma residente que preferiu não se identificar.
O impacto desta divisão já se faz sentir na vida diária da comunidade. O acesso a serviços essenciais tornou-se um jogo de negociações perigosas com ambos os lados. Em alguns casos, moradores precisam pagar duplicidade de taxas para garantir o mínimo de segurança e acessibilidade dentro de suas próprias casas. “Se você quer segurança, tem que pagar para a milícia. Se quer que deixem em paz os jovens daqui, tem que acertar com o tráfico”, explica um morador antigo.
A situação do Piraquê é um microcosmo do que acontece em muitas outras comunidades do Rio de Janeiro, onde a falta de presença e investimento do Estado deixou um vácuo de poder que foi rapidamente preenchido por esses grupos armados. A Polícia Militar faz incursões regulares na área, mas com pouco efeito permanente. “As operações são como colocar um band-aid em uma ferida profunda”, diz um policial sob condição de anonimato.
A comunidade educacional também sofre. Escolas frequentemente fecham suas portas devido a tiroteios ou por ameaças diretas de grupos criminosos. Crianças e adolescentes perdem não apenas dias letivos, mas também o acesso a um futuro potencialmente melhor. “Temos uma geração crescendo sob o som de tiros, e isso não pode ser normal”, lamenta uma professora da localidade.
As autoridades parecem estar em um impasse sobre como resolver a situação. Enquanto isso, organizações não governamentais tentam mediar conflitos e oferecer alguma forma de assistência aos moradores, mas enfrentam enormes desafios e riscos. O temor é que, sem uma intervenção efetiva e imediata, Piraquê possa se tornar palco de um conflito aberto, resultando em perdas de vidas e mais desestruturação social.
A comunidade clama por paz e por uma solução que vá além da repressão armada. “Precisamos de educação, saúde, e de policiamento comunitário, não apenas de mais armas nas ruas”, clama uma ativista local. Essa situação evidencia a urgente necessidade de reformas profundas na política de segurança pública, focadas não apenas em conter o avanço do crime, mas em curar as feridas de comunidades como Piraquê, que sofrem há décadas com a negligência e a violência.
À medida que os dias passam, a esperança de uma resolução pacífica se esvai, deixando em seu lugar um rastro de medo e incerteza. O futuro da comunidade do Piraquê, assim como o de muitas outras em situações similares, pende em um delicado equilíbrio, à espera de ações concretas que possam restaurar a ordem e a paz.