Uma tarde aparentemente tranquila em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, foi abruptamente transformada em terror e correria. Traficantes do Comando Vermelho foram apontados como responsáveis por um ataque que deixou sete pessoas baleadas nas proximidades da estação do BRT Curral Falso, um dos acessos à comunidade do Cesarão. O alvo do atentado, um miliciano que estava no local, conseguiu escapar, mas a disputa entre facções pelo domínio da região resultou em vítimas inocentes.
Terror em meio à distração
Era uma típica reunião de bairro. Amigos e conhecidos se reuniam para jogar baralho, conversar e beber cerveja. Muitos aposentados estavam no local, aproveitando a noite sem imaginar que, em poucos segundos, o clima de descontração daria lugar ao desespero.
Os disparos começaram de repente. Para quem estava ali, o som não foi imediatamente reconhecido como tiros. Um dos sobreviventes contou que, no início, pensou que eram apenas bombinhas estourando ao longe. Mas a confusão rapidamente se transformou em pânico quando viu pessoas correndo e se jogando no chão.
“Eu pensei que era bombinha. Eu só fui prestar atenção quando vi todo mundo correndo. Aí que entrei em desespero. Fui tentar correr, caí, aí agarrei minha filha, fiquei de escudo para ela, e meu outro filho correu lá para trás, para o banheiro, porque se levantasse a bala pegava. Eu vi o cara se arrastando, que foi o peixeiro que levou um tiro e o outro jogado na rua com um tiro no pé. Aí coloquei os dois no meu carro e levei para a UPA”, relatou o homem, ainda visivelmente abalado.
A cena descrita por ele ilustra a brutalidade do ataque. Pessoas caídas no chão, feridas, tentando entender o que havia acontecido. Algumas vítimas ficaram jogadas na rua, outras tentavam se arrastar para um lugar seguro.
A guerra invisível que se faz presente
A motivação do ataque reforça a constante guerra pelo controle territorial na região. O Comando Vermelho estaria tentando invadir áreas que atualmente são dominadas pela milícia. O atentado foi um recado claro: o confronto entre as facções está longe de acabar, e a violência segue atingindo moradores que nada têm a ver com a disputa.
Santa Cruz é um dos bairros mais afetados por essa rivalidade. Ao longo dos anos, a linha entre territórios milicianos e áreas sob domínio do tráfico tornou-se um campo de batalha urbano. Moradores convivem com toques de recolher, extorsões e ataques como esse, onde o simples ato de estar no lugar errado na hora errada pode custar a vida.
A fuga do alvo e a ação da polícia
Embora sete pessoas tenham sido baleadas, o principal alvo do ataque saiu ileso. O miliciano que estava no local conseguiu escapar, frustrando a investida do Comando Vermelho. Ainda assim, o saldo da ação deixou a comunidade em choque.
A polícia já iniciou as investigações sobre o caso. Agentes da delegacia de Santa Cruz estão analisando imagens de câmeras de segurança e colhendo depoimentos de testemunhas para identificar os criminosos envolvidos. No entanto, como ocorre frequentemente em casos assim, o medo pode dificultar as denúncias.
Moradores entre o medo e a resistência
Esse não é um episódio isolado. Os moradores de Santa Cruz já conhecem bem o que é viver sob a mira de facções criminosas. Entre a milícia e o tráfico, a população se vê refém de um ciclo de violência que parece não ter fim.
Enquanto isso, quem sobrevive tenta seguir a vida com a incerteza de quando será o próximo ataque. No baralho daquela noite, ninguém esperava que a aposta mais arriscada seria a própria vida.