Desde setembro de 2022, o aumento expressivo no valor da testosterona tem causado dificuldades para milhares de homens transexuais que dependem do hormônio para sua terapia de reposição. O medicamento Deposteron (cipionato de testosterona), fabricado pela farmacêutica brasileira EMS, sofreu um reajuste de até 380%, tornando-se inacessível para muitos. Como consequência, diversas pessoas foram obrigadas a interromper o tratamento e enfrentam retrocessos em seus processos de transição, como queda de pelos e retorno do ciclo menstrual.
O reajuste ocorreu devido a uma decisão do TRF1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), que concedeu uma liminar permitindo que a EMS aumentasse o preço do Deposteron acima do teto estabelecido pela CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos). A CMED havia determinado que o reajuste máximo para produtos farmacêuticos em 2022 deveria ser de 10,89%. No entanto, a nova tabela de preços mostra um salto impressionante: o valor do Deposteron, que deveria girar em torno de R$ 52,55, passou a ser comercializado por R$ 252,49 em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
A testosterona é essencial para homens trans que realizam a terapia hormonal de afirmação de gênero, com aplicações recomendadas a cada 21 dias. A interrupção do tratamento pode ter impactos psicológicos e físicos significativos, comprometendo a saúde e o bem-estar desses indivíduos. Além dos efeitos visíveis, como a redução da massa muscular e o aumento da gordura corporal, a interrupção da terapia pode desencadear instabilidades emocionais e sintomas de depressão e ansiedade.
A situação se agrava pelo fato de que não há previsão de que a decisão seja revista. Isso significa que muitos homens trans continuarão enfrentando dificuldades para dar continuidade ao tratamento, a não ser que encontrem alternativas, como recorrer a versões importadas da testosterona ou buscar auxílio no sistema público de saúde, onde a distribuição do medicamento é limitada.
A alta no preço do Deposteron também afeta indivíduos com hipogonadismo masculino, uma condição na qual o corpo não produz testosterona suficiente devido a um mau funcionamento dos testículos. Para esses pacientes, a reposição hormonal é fundamental para manter a saúde óssea, a força muscular e a função sexual.
A falta de previsibilidade sobre os preços do medicamento e a falta de opções acessíveis tornam urgente uma revisão dessa política de reajustes. Organizações que defendem os direitos das pessoas transgênro e especialistas em saúde pública têm pressionado as autoridades para rever a decisão e garantir que o tratamento continue acessível a todos que necessitam.
A discussão sobre o impacto desse aumento também levanta questões sobre o acesso a medicamentos essenciais e a regulação de preços no Brasil. A terapia hormonal é um direito de saúde, e seu alto custo pode resultar na marginalização de um grupo que já enfrenta diversas dificuldades para acessar cuidados médicos adequados.
Enquanto a situação não é resolvida, pacientes buscam alternativas para continuar o tratamento e evitam ao máximo interromper a terapia hormonal. No entanto, sem uma solução concreta, muitos continuarão enfrentando retrocessos e desafios que afetam diretamente sua saúde e qualidade de vida.