O Rio de Janeiro amanheceu em estado de guerra após um dos episódios mais humilhantes para a segurança pública do estado. Na calada da noite, traficantes fortemente armados metralharam a 60ª DP, em Duque de Caxias, e resgataram o chefe do tráfico Rodolfo Manhães Viana, o “Rato”. O episódio escancara, mais uma vez, o total domínio do crime organizado e a fragilidade de um governo que insiste em reagir, mas nunca se antecipar.
Diante da afronta, o governador Cláudio Castro fez o que já se tornou praxe: convocou uma megaoperação. Mais de 2 mil agentes da Polícia Civil foram mobilizados para atuar em diversos municípios, incluindo Duque de Caxias, Rio de Janeiro, São Gonçalo, Nova Iguaçu, Campos dos Goytacazes, Niterói, Volta Redonda, Cabo Frio, Macaé, Angra dos Reis, Petrópolis, Teresópolis, Maricá, Belford Roxo, Itaboraí, Queimados, Rio das Ostras e Resende.
Mas será que isso resolve? Quantas vezes já vimos esse roteiro? O crime desafia, o governo responde com força máxima, prende meia dúzia de criminosos de menor escalão, faz apreensão de armas e drogas para mostrar serviço, e depois tudo volta ao normal. O ciclo de violência continua, e a população, que deveria ser protegida, fica refém do fogo cruzado.
UMA AÇÃO QUE CHEGA TARDE
A pergunta que não cala: onde estava a inteligência policial antes do ataque? Como um grupo de criminosos conseguiu se organizar e metralhar uma delegacia sem que houvesse qualquer sinal de alerta? A resposta é simples: o estado perdeu o controle há tempos. As comunidades são governadas pelo tráfico e pela milícia, e o poder público apenas tenta apagar incêndios quando a situação já se tornou insustentável.
Não há planejamento estratégico, não há política de segurança de longo prazo, não há enfrentamento sistemático das facções. Há apenas reações esporádicas e espetaculosas para mostrar à população que algo está sendo feito. Mas será que está?
A SOCIEDADE COMO REFÉM
Enquanto o governador Cláudio Castro anuncia operações, a realidade do carioca e do fluminense continua sendo de medo. O trabalhador que sai de casa de madrugada para pegar um ônibus lotado não sabe se voltará. As crianças que deveriam estar na escola têm as aulas suspensas por causa de tiroteios. O comércio fecha as portas porque ninguém quer ser a próxima vítima de uma bala perdida. E os criminosos? Esses continuam impondo sua lei, seja nos morros, seja nos bastidores da política.
Não há megaoperação que resolva o problema estrutural da segurança pública no Rio. O tráfico não se combate apenas com fuzis e blindados, mas com inteligência, investimento social e uma limpeza profunda na corrupção que permeia os próprios órgãos de segurança. Quantos agentes da lei estão, na verdade, a serviço do crime? Quantos figurões da política devem favores às facções e às milícias?
A FARSA DAS OPERAÇÕES
O governador quer nos convencer de que a megaoperação vai trazer resultados concretos. Mas o que aconteceu nas últimas ações desse tipo? Quando o Jacarezinho foi invadido, vimos um saldo de mortos, prisões e apreensões, mas será que isso enfraqueceu as facções? Meses depois, tudo voltou ao “normal”: traficantes circulando livremente, fuzis apontados para o céu e a polícia acuada.
O crime não se desfaz com operações midiáticas. Ele se desfaz com trabalho sério, combate à corrupção dentro das forças de segurança, fortalecimento das polícias, melhorias nas condições de vida da população e uma justiça que funcione de verdade. Enquanto o governo continuar apenas reagindo e vendendo operações como solução mágica, a população seguirá refém do medo e da violência.
A PERGUNTA QUE FICA
Depois dessa megaoperação, o que virá? Quantos dias levará para que outro episódio escandaloso aconteça? Será que desta vez vão prender “Rato” novamente, ou ele simplesmente continuará ditando as regras do seu império do crime de um novo esconderijo? E, acima de tudo, quando veremos um governo que age antes do crime, e não depois?
A verdade é dura, mas precisa ser dita: essa megaoperação é apenas mais um teatro. O governo late, mas não morde. E enquanto isso, o povo segue sofrendo.