A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) está investigando os ataques sofridos pelo padre André Luiz Teixeira de Lima, que prestou depoimento à especializada após ser alvo de atos de intolerância religiosa. No último domingo (16), o sacerdote foi impedido de celebrar uma missa na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, localizada em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
O episódio aconteceu quando um grupo de pessoas, que já vinha atacando o padre nas redes sociais, estendeu uma faixa com a mensagem: “Fora, padre André. Você não representa nossa Paróquia”. Além disso, um vídeo publicado no Instagram por um dos envolvidos na ação mostra um bate-boca entre os manifestantes e fiéis que aguardavam o início da missa. Em outras imagens, o pároco aparece indo embora, visivelmente abalado. Um dos agressores chega a comemorar a saída do padre, dizendo: “Pediu para sair”.
As redes sociais também foram palco para discursos de ódio contra o religioso. O grupo que o atacou o chamava de “macumbeiro” em razão de seu trabalho inter-religioso voltado ao ecumenismo, que busca a união e o diálogo entre fiéis de diferentes igrejas e religiões. A postura de intolerância gerou revolta entre aqueles que defendem a liberdade religiosa e o respeito às diferentes crenças.
O coordenador do Movimento Inter-religioso da Zona Oeste, reverendo Morôni Azevedo de Vasconcellos, manifestou preocupação com o crescimento da intolerância e da violência motivada por diferenças religiosas. “A gente vê uma cultura de truculência bastante grande. Uma cultura que está cada vez mais presente na nossa sociedade, onde as pessoas querem tomar os espaços à força. Além disso, há uma ampliação da intolerância, do afastamento de movimentos que promovem a paz, o diálogo e a preocupação com os mais vulneráveis”, ressaltou o reverendo.
Morôni destacou ainda que o padre André Luiz é amplamente reconhecido por seu trabalho social e pelo esforço em promover o diálogo entre diferentes religiões. No entanto, essa postura tem desagradado uma ala mais extremista dentro da própria Igreja, que rejeita iniciativas inter-religiosas e prefere uma abordagem mais rígida e excludente.
O caso levanta um alerta para o crescimento da intolerância religiosa no Brasil. Especialistas apontam que, nos últimos anos, ataques como esse têm se tornado mais frequentes, reforçando a necessidade de políticas públicas e ações efetivas para garantir a liberdade de crença e a coexistência pacífica entre diferentes tradições religiosas.
A Arquidiocese do Rio de Janeiro ainda não se manifestou oficialmente sobre o ocorrido. Já o padre André Luiz tem recebido apoio de diversos setores da sociedade civil, incluindo representantes de diferentes credos que defendem o direito ao livre exercício da fé. Organizações de direitos humanos também cobram uma resposta firme das autoridades para que os responsáveis pelo ataque sejam identificados e punidos de acordo com a lei.
A Decradi segue investigando o caso e deve ouvir novas testemunhas nos próximos dias. O episódio reacende o debate sobre os limites da liberdade de expressão e o perigo do discurso de ódio, que pode se transformar em atos de violência e perseguição contra aqueles que pregam a inclusão e o respeito às diferenças.