A pirataria de transmissões esportivas se tornou um dos maiores pesadelos para a Globo, especialmente quando o assunto é o Premiere, serviço de pay-per-view voltado aos jogos do futebol brasileiro. De acordo com Manuel Belmar, diretor de produtos digitais, finanças, jurídico e infraestrutura da emissora, o impacto causado por transmissões ilegais tem sido devastador: de cada cinco pessoas que assistem a uma partida no Premiere, quatro o fazem sem pagar pela assinatura.
Esse número alarmante revela um problema estrutural que vai além do simples ato de compartilhar um link pirata. Ele expõe as fragilidades de um modelo de negócios que, embora consolidado há décadas, agora sofre com os desafios impostos pela tecnologia, pela popularização de dispositivos de streaming e pela falta de fiscalização mais eficaz.
Atualmente, o Premiere conta com cerca de 2,5 milhões de clientes pagantes, o que representa uma arrecadação estimada em torno de R$ 750 milhões ao ano. No entanto, se todos os espectadores acessassem os jogos de maneira legal, o número de assinantes poderia saltar para cerca de 10 milhões, elevando a arrecadação para a casa de R$ 1 bilhão. Isso significa que a Globo pode estar deixando de ganhar até R$ 500 milhões por ano apenas com pirataria.
“A pirataria é hoje o nosso maior desafio. Estamos diante de uma realidade em que a grande maioria do público consome o conteúdo sem contribuir para a sustentabilidade do produto”, afirma Belmar. A empresa tem investido em tecnologia para dificultar o acesso ilegal e também em ações judiciais para responsabilizar os responsáveis pela disseminação dos conteúdos piratas. No entanto, o crescimento desenfreado dessas práticas continua sendo uma pedra no sapato.
Além da perda financeira direta, a pirataria compromete a qualidade do serviço. Com menos receita, a Globo precisa reavaliar investimentos em infraestrutura de transmissão, aquisição de direitos e até mesmo na produção de conteúdo exclusivo. “É um efeito dominó. Quando a base de assinantes não cresce como o esperado, toda a cadeia sofre: clubes, produtores, jornalistas e, claro, os próprios torcedores”, explica o executivo.
Especialistas em direitos autorais e economia digital apontam que o combate à pirataria precisa ser tratado como uma política pública. “Não é apenas uma questão de proteger empresas como a Globo. É uma questão de proteger o esporte, a cultura e os empregos que dependem da cadeia de valor gerada pelas transmissões esportivas”, diz o advogado e professor de direito digital Paulo Vasconcellos.
Outro fator que agrava a situação é a facilidade com que conteúdos piratas são encontrados. Em poucos segundos, qualquer usuário com acesso à internet pode localizar links para transmissões ilegais em redes sociais, sites estrangeiros ou até mesmo em grupos de aplicativos de mensagens. A velocidade com que esses links se espalham e a dificuldade em tirá-los do ar tornam o problema ainda mais complexo.
Apesar das dificuldades, a Globo afirma que continuará atuando de forma firme contra a pirataria. A empresa tem apostado também em melhorias na experiência do usuário, com aplicativos mais estáveis, maior diversidade de planos e pacotes, além de parcerias com operadoras e plataformas digitais. “Sabemos que não existe solução simples, mas acreditamos que com inovação, fiscalização e conscientização, podemos mudar esse cenário”, conclui Belmar.
No fim das contas, a guerra contra a pirataria no futebol não é apenas da Globo, mas de todo o ecossistema esportivo e midiático. E, como mostram os números, perder essa batalha significa muito mais do que prejuízo financeiro: é comprometer o futuro do esporte brasileiro.