A violência imposta pelas milícias na Zona Oeste do Rio de Janeiro fez mais uma vítima. Em março deste ano, o comerciante Rafael Oliveira Braga, de 43 anos, foi brutalmente assassinado na porta de sua padaria, localizada na comunidade Nova Jersey, em Paciência. O crime, segundo as investigações da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), foi motivado por sua recusa em pagar a chamada “taxa da farinha”, um esquema de extorsão que vem se tornando comum em áreas dominadas por grupos paramilitares.
De acordo com a polícia, Rafael foi morto por dois homens que se aproximaram em uma moto e dispararam diversas vezes. Ele não resistiu aos ferimentos e morreu no local, antes mesmo da chegada do socorro. O ataque, segundo os investigadores, foi uma retaliação direta à negativa do comerciante em se submeter ao esquema criminoso.
Mas afinal, o que é a “taxa da farinha”?
Trata-se de uma prática extorsiva na qual milicianos obrigam padarias e outros estabelecimentos comerciais a comprar farinha de trigo diretamente com eles, geralmente por um valor bem acima do praticado no mercado. A recusa em participar do esquema resulta em ameaças constantes e, em casos extremos como o de Rafael, em assassinatos friamente calculados.
A “taxa da farinha” é mais uma das estratégias adotadas por milicianos para ampliar seu domínio econômico e territorial. Com o controle sobre itens básicos da cadeia de produção alimentar, esses grupos lucram de forma sistemática e espalham o medo entre trabalhadores e empresários locais. O crime organizado se modernizou e, agora, atua como uma espécie de “empresa” que impõe seu próprio sistema de cobrança — com violência e impunidade.
A morte de Rafael Braga escancara a urgência de ações mais firmes por parte das autoridades para combater o avanço das milícias na cidade. Para os comerciantes da região, a sensação é de completo abandono e insegurança. Muitos vivem sob o domínio do medo, sem saber se o próximo alvo pode ser o seu próprio negócio — ou sua vida.
Enquanto isso, a padaria de Rafael permanece fechada, e sua família clama por justiça. O caso é mais um retrato cruel da realidade enfrentada por milhares de trabalhadores na Zona Oeste: produzir e vender com dignidade virou uma atividade de alto risco.