Um novo fenômeno tem chamado a atenção de especialistas e autoridades em saúde mental no Brasil: o crescente número de pessoas que tratam bonecos realistas, conhecidos como “bebês reborn”, como filhos de verdade. A situação, que vem ganhando espaço nas redes sociais e na mídia, acendeu um alerta no Congresso Nacional. Deputados federais apresentaram um projeto que propõe a criação de um programa de saúde mental voltado exclusivamente para essas pessoas, apontando o comportamento como parte de um possível “surto coletivo”.
Os chamados bebês reborn são bonecos hiper-realistas, feitos com riqueza de detalhes para se parecerem ao máximo com recém-nascidos. Embora tenham surgido como itens de colecionador ou ferramentas terapêuticas, nos últimos anos esses bonecos passaram a ocupar um papel central na vida de alguns adultos, que os alimentam, vestem, levam ao médico, registram em cartório e até pagam plano de saúde em nome deles.
Diante desse quadro, o grupo de parlamentares argumenta que, embora existam casos inofensivos e até terapêuticos, o aumento expressivo do número de pessoas que acreditam e agem como se fossem pais reais dos bonecos pode indicar desequilíbrios emocionais mais graves. O projeto de lei propõe ações de acompanhamento psicológico gratuito, capacitação de profissionais da saúde para lidar com esse tipo de caso e campanhas educativas sobre saúde mental e uso de mecanismos de compensação emocional.
“Não estamos aqui para julgar ou ridicularizar ninguém. Nosso objetivo é garantir que essas pessoas recebam a ajuda adequada, caso estejam lidando com traumas, luto ou questões emocionais profundas por trás desse comportamento”, afirmou um dos deputados responsáveis pela proposta.
A proposta já causa polêmica. Enquanto alguns defendem a medida como necessária e sensível ao sofrimento psíquico de parte da população, outros acusam o projeto de ser preconceituoso e sensacionalista. Em redes sociais, muitos “pais e mães de reborns” se manifestaram, afirmando que a prática é uma escolha pessoal, que não interfere na vida de ninguém e que pode sim ter um papel terapêutico.
Especialistas em psicologia apontam que, em alguns casos, a interação com os bonecos pode ajudar no enfrentamento de perdas gestacionais, traumas e solidão. No entanto, alertam que quando o comportamento ultrapassa certos limites da realidade e prejudica a vida social ou funcional do indivíduo, o acompanhamento profissional é fundamental.
O projeto segue em tramitação e deve ser discutido nas próximas semanas em comissões temáticas da Câmara dos Deputados.