Um caso inusitado está chamando a atenção nas redes sociais e no meio jurídico: um ex-casal está travando uma batalha judicial pela guarda de uma boneca reborn — uma boneca hiper-realista que imita com perfeição a aparência de um recém-nascido. O caso, compartilhado pela advogada Suzana Ferreira, revela os limites cada vez mais tênues entre afeto, realidade e direito.
( advogada Suzana Ferreira)
Segundo a advogada, sua cliente entrou com uma ação judicial com o objetivo de formalizar a guarda da boneca, tratada por ela como uma verdadeira filha. Ao longo do relacionamento, a mulher teria desenvolvido um forte vínculo emocional com o objeto, chegando a montar um enxoval completo para a boneca, além de investir valores significativos na sua aquisição e nos cuidados posteriores.
A cliente de Suzana Ferreira afirma que a boneca faz parte da sua vida familiar, sendo tratada como uma criança real no cotidiano. A situação, embora pareça excêntrica para muitos, revela uma dimensão emocional legítima, segundo a advogada, que defende o direito da mulher de preservar esse laço afetivo.
Surpreendentemente, o ex-companheiro também manifestou o desejo de continuar tendo contato com a “filha” reborn, o que levou ao impasse legal. O homem não apenas reconhece a importância emocional da boneca para a ex-parceira, como também expressa seus próprios sentimentos de apego. Esse desejo de manter uma convivência com a boneca reforçou a disputa pela guarda e motivou o pedido formal da cliente para que os direitos sobre a boneca sejam reconhecidos judicialmente.
Além da guarda, a mulher também solicita na Justiça o ressarcimento parcial dos custos investidos durante o tempo em que o casal esteve junto. A ação pede a divisão de gastos relacionados à compra da boneca e à montagem do enxoval, que inclui roupas, acessórios e até móveis de bebê.
O caso levanta questões éticas e legais sobre os limites do afeto em disputas judiciais. Embora à primeira vista pareça um exagero, situações semelhantes já vêm sendo observadas nos tribunais brasileiros, especialmente em relação à guarda de animais de estimação. Agora, com a crescente popularidade das bonecas reborn — muitas vezes usadas por pessoas que enfrentam luto, infertilidade ou outras questões emocionais — o Judiciário começa a se deparar com novas formas de vínculo que desafiam a lógica tradicional das relações familiares.
Especialistas em direito de família avaliam que, embora objetos não possam, juridicamente, ser considerados “filhos”, o valor afetivo atribuído a eles pode influenciar decisões em processos de separação. O caso em questão ilustra como o afeto pode transformar simples objetos em elementos centrais de conflitos emocionais e jurídicos complexos.
Essa história serve como alerta sobre o impacto psicológico de relações intensas com objetos e sobre como o sistema judicial deve se adaptar a novas formas de vínculo afetivo em nossa sociedade contemporânea.