O cantor e influenciador Oruam, conhecido por seu envolvimento com o rap e sua presença marcante nas redes sociais, voltou a causar polêmica nesta semana ao publicar uma homenagem ao traficante conhecido como “Gotinha”, apontado como segurança pessoal de TH da Maré, um dos principais líderes do Terceiro Comando Puro (TCP).
A postagem chamou atenção não apenas pela figura homenageada, mas também pelo forte desabafo que a acompanhava. Oruam, que é filho de Marcinho PV — um dos chefes do Comando Vermelho (CV), atualmente preso —, deixou claro o tom de revolta e crítica à violência promovida tanto pelas facções criminosas quanto pelo próprio Estado.
Em sua publicação, ele escreveu:
“O Estado tá matando nós em um ciclo infinito e tá rindo da nossa cara. Eu odeio essa guerra de facção. Quando o Estado mata um menor novo da forma que fez, ele diz que não quer consertar a bagunça, só fazer um banho de sangue. 🩸 Demorei a postar, mas não consegui 😡😡😡😡”
A declaração causou grande repercussão entre seguidores, ativistas e internautas em geral. Oruam deixou evidente seu pesar diante da morte de Gotinha, mas também abriu espaço para uma reflexão crítica sobre o papel do Estado na violência urbana e na guerra entre facções. O influenciador, que frequentemente aborda temas ligados à realidade das comunidades e da juventude periférica, usou o alcance de suas redes sociais para protestar contra o que chamou de “banho de sangue institucionalizado”.
A fala de Oruam expõe uma contradição que marca a realidade de muitos jovens nas favelas do Rio: entre a dor das perdas e a repulsa pela guerra do tráfico, também existe o sentimento de abandono pelo poder público. Mesmo sendo filho de um dos maiores nomes do CV, o cantor se manifestou contra a rivalidade entre facções, indicando um desejo por paz — ainda que envolto em homenagens polêmicas e ambiguidades.
Especialistas em segurança pública alertam que esse tipo de manifestação, embora reflita uma realidade vivida por muitos, pode ser interpretada como apologia ao crime, sobretudo por dar visibilidade e “humanizar” figuras diretamente ligadas ao tráfico.
O episódio reacende o debate sobre o papel de artistas e influenciadores na construção de narrativas sobre violência, criminalidade e a presença — ou ausência — do Estado nas favelas. Ao mesmo tempo em que Oruam é criticado por sua proximidade com o crime organizado, ele também é visto por parte do público como uma voz legítima da periferia, que denuncia uma guerra que parece não ter fim.