A deputada federal Rosangela Moro (União Brasil) surpreendeu o meio político ao apresentar, na última quinta-feira (15), um projeto de lei (PL) que propõe a criação de um programa de assistência para pessoas que desenvolvem vínculos afetivos intensos com bebês reborn — bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos. A proposta pretende incluir esse atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS), com foco especial em casos de dependência emocional.
Segundo o texto do PL, o SUS deverá oferecer acompanhamento psicológico a indivíduos que criam laços profundos com esses bonecos, de forma semelhante ao suporte já disponibilizado em casos de luto ou outras formas de sofrimento mental. A proposta tem gerado debate entre especialistas e nas redes sociais, onde o tema rapidamente ganhou destaque.
“As pessoas estão tratando isso como se fosse uma criança de verdade”, afirmou Rosangela Moro em entrevista à coluna da jornalista Mônica Bergamo, do portal Metrópoles. A parlamentar destacou que, embora os bebês reborn sejam usados como ferramentas terapêuticas, especialmente com idosos diagnosticados com Alzheimer ou pacientes em processo de luto, é necessário estabelecer limites no uso desses bonecos.
“Até as terapias oferecidas com o boneco, para idosos com Alzheimer ou pessoas em luto, precisam ter começo, meio e fim”, completou a deputada. Ela ressalta que o uso terapêutico deve ser acompanhado por profissionais da saúde mental e inserido dentro de uma estratégia clínica, evitando que a pessoa se torne emocionalmente dependente do objeto.
Os bebês reborn surgiram no final dos anos 90 e desde então vêm conquistando admiradores no mundo todo. São confeccionados manualmente com detalhes minuciosos, como peso semelhante ao de um bebê real, veias aparentes e até respiração simulada. Por sua aparência realista, muitas pessoas — inclusive adultos — os adotam como uma espécie de “filho afetivo”, o que tem levantado questionamentos sobre os limites entre terapia, carência emocional e dependência psíquica.
A proposta de Rosangela Moro não se limita apenas à assistência terapêutica. O PL também prevê campanhas de conscientização sobre o uso responsável dos bebês reborn e a importância do acompanhamento psicológico nos casos de vínculo afetivo exagerado. Para a deputada, a medida busca acolher com responsabilidade uma realidade já existente, em vez de ignorá-la ou tratá-la com preconceito.
Enquanto o projeto segue para análise nas comissões da Câmara, especialistas em saúde mental alertam para a importância de se discutir o tema com seriedade. “O apego emocional a objetos pode ser sintoma de transtornos mais profundos, como depressão ou ansiedade. O papel do SUS, nesse caso, seria identificar, acolher e tratar essas pessoas, e não julgá-las”, explica a psicóloga Mariana Freitas.