O que era para ser uma noite de celebração, cultura popular e alegria se transformou em pânico, desespero e luto na Comunidade do Santo Amaro, no Catete, Zona Sul do Rio. Durante uma festa junina que reunia famílias, crianças e quadrilhas de diversas regiões do estado, uma operação do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope) terminou com um jovem morto e ao menos cinco pessoas feridas.
A vítima fatal foi identificada como Herus Guimarães Mendes, de 24 anos, funcionário de uma imobiliária e pai de um menino de apenas dois anos. Segundo familiares, Herus foi baleado com dois tiros e chegou a ser levado para o Hospital Glória D’Or, mas não resistiu aos ferimentos.
O pai do jovem, Fernando Guimarães, fez um apelo emocionado por explicações e cobrou responsabilidades pela ação em meio a uma festividade tradicional da comunidade.
“A gente só quer que alguém nos procure e diga quem autorizou aquilo. Secretário de Segurança, chefe do Bope, que alguém nos procure e explique. Quem autorizou?”, questionou, abalado.
Além de Herus, outras cinco pessoas foram baleadas no tiroteio e socorridas para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio. Entre os feridos está um adolescente de apenas 16 anos, também morador da região.
Moradores Relatam Terror Durante a Festa
De acordo com testemunhas, o evento contava com apresentações de quadrilhas juninas, comidas típicas e atrações voltadas para as crianças. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram cenas de desespero: moradores se jogando no chão, crianças correndo e gritos enquanto tiros ecoavam pelas ruas.
“Era uma festa das famílias, feita com esforço pelos próprios moradores, sem nenhuma relação com criminalidade. A nossa quadrilha ia se apresentar no momento em que tudo começou”, relatou um dos participantes da festa.
Cassiano da Silva, presidente da Associação de Moradores de Santo Amaro, classificou a ação como “covarde” e lamentou profundamente o ocorrido. Sem conseguir conter a emoção, ele afirmou que o tiroteio começou justamente quando a quadrilha local se preparava para se apresentar.
“Foi covardia. Tinha criança, tinha idoso. Era uma festa da comunidade. Nós pedimos respeito. Isso não pode continuar acontecendo”, declarou.
Clima de Medo e Indignação
Após os tiros, vídeos também mostraram ruas completamente vazias e um clima de tensão e medo se instalando na comunidade. Famílias relataram dificuldade para sair de casa e medo de represálias. A festa foi encerrada às pressas, e as barracas ficaram abandonadas.
Até as 9h da manhã deste sábado (7), a Polícia Militar ainda não havia se pronunciado oficialmente sobre o motivo da operação ou se havia algum alvo específico no local.
Organizadores do evento afirmam que a festa foi comunicada às autoridades e que se tratava de um encontro cultural pacífico, voltado à valorização das tradições populares.
A morte de Herus provocou revolta nas redes sociais, com internautas exigindo respostas das autoridades e denunciando o que chamam de “abuso de força do Estado em áreas pobres”.
Enquanto familiares e amigos choram a perda de um jovem trabalhador, a comunidade de Santo Amaro tenta entender como uma celebração da cultura nordestina terminou em tragédia.
O caso será investigado pela Polícia Civil, e a Defensoria Pública do Rio informou que irá acompanhar a apuração dos fatos.