Belford Roxo, RJ – 14/08/2025 — Um esquema de corrupção dentro da Polícia Militar voltou a chocar a Baixada Fluminense. Oito policiais militares foram presos nesta quinta-feira (14) acusados de cobrar propina semanal de comerciantes de Belford Roxo e até de um posto do Detran-RJ. A denúncia, feita pelo Ministério Público, aponta que os agentes atuavam de forma organizada, durante o expediente, usando farda, armamento e viaturas oficiais para intimidar e garantir o pagamento.
As investigações revelam que o grupo agia com regularidade entre 2021 e 2024, período em que todos estavam lotados no 39º BPM, em Belford Roxo. A propina, de R$ 100 por mês, era cobrada de forma sistemática de uma ampla rede de estabelecimentos: restaurantes, mercados, lanchonetes, postos de combustíveis, depósitos, clínicas, farmácias, universidades, funerárias, mototáxis, transporte alternativo, feiras livres e até festas populares.
O caso ganhou contornos ainda mais graves ao ser revelado que até um posto do Detran-RJ estava na lista dos “clientes” do esquema. Os policiais chamavam os comerciantes e prestadores de serviço que pagavam regularmente a propina de “padrinhos” — uma espécie de título para aqueles que “garantiam” a tranquilidade oferecida pela própria corporação que deveria protegê-los gratuitamente.
De acordo com o MP, o grupo se valia da estrutura da PM para manter o esquema funcionando: realizavam as “visitas” de cobrança em viaturas oficiais, armados e uniformizados, em pleno horário de serviço. A presença ostensiva servia tanto para pressionar o pagamento quanto para criar a imagem de que estavam prestando um serviço legítimo de segurança.
Os oito policiais agora respondem pelos crimes de organização criminosa, corrupção passiva e peculato — este último caracterizado quando um servidor público se apropria indevidamente de bens ou valores em razão do cargo que ocupa. Caso condenados, as penas podem ultrapassar 20 anos de prisão, além da expulsão da corporação.
O Ministério Público destacou que esta não é a primeira vez que o batalhão de Belford Roxo é alvo de denúncias desse tipo. Em julho deste ano, outra operação já havia mirado PMs suspeitos de práticas semelhantes. “É um ciclo que precisa ser rompido. A população não pode ser vítima daqueles que deveriam protegê-la”, afirmou um dos promotores responsáveis pelo caso.
A Corregedoria da Polícia Militar informou que está colaborando com as investigações e que todos os envolvidos foram afastados de suas funções. O MP segue ouvindo comerciantes e recolhendo provas para ampliar o alcance da investigação, que pode revelar mais nomes e ramificações do esquema na Baixada Fluminense.