O cenário da violência no Rio de Janeiro ganhou mais um capítulo alarmante. O Morro do Amorim, em Manguinhos, foi oficialmente tomado pelo Comando Vermelho (CV), que conseguiu expulsar a milícia que dominava a região. A mudança de poder trouxe não apenas novos chefes, mas também regras rígidas e intimidadoras para a comunidade, impactando diretamente a vida de centenas de moradores.
Segundo informações apuradas, a facção impôs uma série de normas: retirada imediata das câmeras de segurança instaladas pelos antigos milicianos, proibição de qualquer contato com policiais, além da obrigatoriedade de entrar na comunidade de carro com vidros abaixados e faróis apagados, medida que serve para facilitar a identificação de possíveis “infiltrados” ou rivais. Essas exigências têm sido cumpridas sob forte ameaça, já que a desobediência pode custar caro em áreas controladas pelo tráfico.
Ponto estratégico na guerra do crime
Embora seja considerado um morro de pequeno porte, o Morro do Amorim possui importância estratégica para o tráfico carioca. A sua localização privilegiada, nas proximidades da Avenida Brasil, da Linha Amarela e do Conjunto de Manguinhos, permite ao CV facilidade de mobilidade, acesso rápido a outras favelas e domínio sobre importantes rotas de fuga e abastecimento.
Autoridades de segurança pública destacam que essa tomada de território pode desencadear novas disputas violentas, já que a milícia expulsa pode tentar retomar o espaço. Além disso, o controle do CV sobre o local fortalece sua influência na região Norte da cidade, aumentando a pressão sobre comunidades vizinhas.
Extorsão e medo no dia a dia
Relatos de moradores e comerciantes confirmam que o Comando Vermelho também vem sendo investigado por práticas de extorsão, obrigando pequenos empresários a pagar taxas para manterem seus estabelecimentos abertos. Quem se recusa, corre o risco de sofrer represálias, incluindo assaltos forjados, sequestros relâmpagos e até expulsão da comunidade.
Esse ciclo de violência e intimidação aprofunda ainda mais o medo entre os habitantes, que já convivem diariamente com tiroteios, toques de recolher e a incerteza sobre o futuro.
Região sensível
O Morro do Amorim está localizado em uma área de grande relevância social e institucional. Próximo à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), referência nacional em pesquisa e saúde pública, e ao Hospital Federal de Bonsucesso, um dos maiores da rede pública do país, o avanço do tráfico coloca em risco tanto trabalhadores quanto pacientes e pesquisadores que circulam pela região.
A escalada da violência em torno de locais estratégicos do Rio expõe novamente a fragilidade do Estado diante do poder paralelo das facções e milícias. Especialistas alertam que, sem ações consistentes e planejadas, a população seguirá refém de grupos criminosos que ditam as regras do cotidiano.
Para os moradores de Manguinhos, a ocupação do Morro do Amorim representa mais do que a troca de comando entre grupos rivais: significa viver sob novas ordens impostas pela força, sem direito de escolha, em um ambiente onde a lei é substituída pela imposição do crime organizado.