O prato mais tradicional da mesa brasileira está perdendo espaço. Segundo um levantamento da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o consumo de arroz e feijão no Brasil atingiu o menor nível desde a década de 1960. O dado acende um alerta sobre as mudanças de hábitos alimentares no país e o possível desaparecimento de um símbolo da cultura nacional.
De acordo com o estudo, fatores como a rotina acelerada, a busca por praticidade e o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados têm contribuído para essa queda. Muitos brasileiros, especialmente os mais jovens, têm trocado o tradicional “arroz com feijão” por opções rápidas como sanduíches, pizzas, massas instantâneas e marmitas prontas.
A mudança é perceptível não apenas nas residências, mas também nos restaurantes. Donos de estabelecimentos populares relatam que o prato feito, antes campeão de vendas, vem sendo cada vez mais substituído por saladas, grelhados ou combinações mais “modernas”. A nutricionista Ana Lúcia Ferreira, ouvida pela reportagem, explica que essa transição preocupa:
“O arroz e o feijão formam uma combinação nutricional quase perfeita, rica em proteínas, fibras, ferro e carboidratos de boa qualidade. Abandoná-los é abrir espaço para uma alimentação menos equilibrada e mais industrializada.”
Além das questões de tempo e praticidade, o encarecimento dos alimentos básicos também pesa. O preço do feijão, por exemplo, teve alta superior à inflação média nos últimos anos, enquanto o arroz enfrentou oscilações no mercado internacional.
Para os especialistas, a queda no consumo é reflexo de transformações culturais e econômicas profundas. Ainda assim, há esperança: campanhas educativas e projetos de valorização da comida caseira tentam resgatar o hábito nas novas gerações.
“Arroz e feijão não são apenas comida. São parte da nossa identidade”, reforça a nutricionista. Se a tendência continuar, o Brasil pode perder não só um prato, mas um dos maiores símbolos da sua mesa e da sua história.