Mais de 24 horas depois de ter a liberdade concedida pela Justiça, o palhaço Pablo Martins, um dos 159 presos numa festa na Zona Oeste acusados de envolvimento com a milícia, foi solto às 14h deste sábado. A ordem foi determinada pelo juiz Eduardo Hablitschek, da 2ª Vara Criminal de Santa Cruz.
– Graças a Deus, primeiro queria agradecer a Ele, senão não estaria aqui. Queria pedir a liberdade de todos os meus amigos que estão lá dentro, são todos inocentes. Tem amigos meus, um chamado Renato, podemos falar que ele é autista e está lá dentro preso. Estou pedindo por cada um que está lá dentro, que hoje posso chamar de irmãos. Porque vivemos numa família todos juntos lá dentro, o sofrimento, todos se ajudando. Só quero justiça. Agora, só justiça – disse Pablo Martins, na saída do Complexo de Gericinó, em Bangu.
Para ele, a maioria é inocente:
– Não conhecia muita gente, poucos que conhecia são familiares de Deus, amigos que moram em minha comunidade, mas posso afirmar que muitos, muitos são inocentes. Tem gente com filho com deficiência, cadeirantes, e estão lá dentro sem poder abraçar seus filhos neste momento. Todos têm trabalho com carteiras assinadas, com risco de perder o emprego agora.

Pablo diz que não chegou a ver armas durante a festa em que ele e os outros 158 foram presos.
– Não posso afirmar que tinha armas, não vi, entrei com minha imulher e minha irmã, tinha revista de segurança das mulheres e segurança dos homens, então se tivesse algo eles veriam e acho que tirariam. E eu sairia porque sou um artista, ser humano, este foi um show divulgado, público, comprei meu ingresso, paguei por ele e pelo da minha irmã e mulher. Fui apenas curtir um grupo chamado Swing e Simpatia, que gosto muito. Nunca imaginei que iria passar por isto tudo – declara
Pablo foi o primeiro dos 159 presos acusados de envolvimento com milícia numa festa, há duas semanas, a conseguir liberdade. Conhecido como Pablo Prynce, o artista integra o elenco da empresa Up Leon há quatro anos, em apresentações circenses em parques temáticos e cruzeiros na Europa, onde passa pelo menos quatro meses por ano — muitas vezes até mais, dependendo do contrato.
Na decisão, o juiz Eduardo Marques Hablitschek, da 2ª Vara Criminal, frisa que Pablo “não possui antecedentes criminais, tem residência fixa e é profissional circense, conforme vasta documentação acostada aos autos”. O magistrado também cita nos autos a viagem do artista para Estocolmo, marcada para a próxima terça-feira, cujo bilhete aéreo foi anexado ao processo. O rapaz participará de diversas apresentações em Estocolmo, na Suécia, com estada prevista é de cinco meses para trabalhar num parque temático na cidade.
Pablo começou no circo em projeto social na comunidade do Aço, em Santa Cruz, onde nasceu e foi criado. Lá, tornou-se monitor e, depois, integrou o elenco do Unicirco Marcos Frota. A prisão dele causou comoção na classe artística. Nas redes sociais, várias pessoas demonstraram apoio a Pablo Prynce.
Em seu perfil, o cantor Caetano Veloso publicou um vídeo onde o ator Wagner Moura destaca a importância do combate às milicias, mas afirma que a ação em Santa Cruz precisa ser revista, já que, segundo o ator, nem todas as pessoas detidas fazem parte da milícia. Caetano, por sua vez, postou que essa luta não pode fazer novas vítimas. Na publicação, o cantor também pede responsabilidade ao Judiciário Fluminense. “Artistas não podem ser presos como criminosos!”, completa.