O presidente afastado da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo Del Nero, foi banido nesta sexta-feira (27/4) de todas as atividades do futebol por toda sua vida. Três anos depois de assolada pela prisão de cartolas, em seu hotel em Zurique, a Fifa finalmente completa a “limpeza” da entidade e exclui o último dirigente envolvido no escândalo de corrupção.
Marco Polo continuava sem uma punição por parte da organização. Além de bani-lo do futebol, a Fifa aplicou uma multa de 1 milhão de francos suíços ao ex-dirigente (cerca de R$ 3,5 milhões).
Del Nero não pode nem entrar na CBF para eventos sociais, não pode presidir clubes de futebol e nem fazer parte de organização de torneios. Ele foi punido por corrupção, por aceitar presentes de forma indevida e gestão desleal.
Del Nero foi indiciado pela Justiça dos Estados Unidos em 2015. Mas, desde então, passou a evitar sair do Brasil para não ser preso. No final do ano passado, porém, ele foi suspenso temporariamente. A Fifa havia recebido evidências dos procuradores dos EUA sobre sua participação em esquemas de corrupção na CBF. Prevendo sua queda definitiva, Del Nero se apressou para montar uma transição na entidade do futebol brasileiro afim de resguardar seus interesses.
Para isso, manobrou para conseguir a eleição de Rogério Caboclo, seu aliado, sem oposição e sem qualquer outro candidato na disputa. A mesma estratégia já havia sido adotada por Ricardo Teixeira, quando deixou a CBF em 2012 e escolheu a dedo seus sucessores.
Num primeiro momento, a Fifa o havia afastado do futebol por três meses, enquanto realizava suas investigações. Em março, a entidade ampliou o inquérito por mais 45 dias. Del Nero ainda pode levar o caso à Corte Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês), assim como fizeram Joseph Blatter, Michel Platini e Jérôme Valcke. Todos, porém, foram derrotados.
A entrada do FBI no caso
A Fifa, durante dois anos, não tocou em Del Nero, alegando não ter provas suficientes para o punir. Mas o brasileiro acabou suspenso quando os documentos do FBI se tornaram públicos. Desde então, a entidade passou a investigar o cartola.
Del Nero chegou a ser interrogado pela Fifa, por meio de uma vídeo conferência. Sua defesa alegou que a entidade máxima do futebol não conseguiria produzir um só documento de acusação, em dois anos de supostas investigações contra o brasileiro.
Cada um dos detalhes apresentados na corte americana contra Del Nero foi questionado, entre eles os acordos com José Maria Marin para repartir o dinheiro. Numa das evidências, os investigadores apontaram como revelaram a herança de propina recebida por Del Nero. Até 2012, ela era paga a Ricardo Teixeira. Mas o montante de US$ 600 mil foi aumentado para um total de US$ 1,2 milhão (R$ 4,1 milhões).
Entre outros argumentos, Del Nero alegou não ter participado da reunião no Paraguai citada por testemunhas, em que subornos foram supostamente negociados em relação a contratos de TV para torneios sul-americanos.
Em Nova York, durante o julgamento dos cartolas do futebol em dezembro, o empresário argentino Alejandro Burzaco revelou na condição de testemunha ter ido em outubro de 2014 ao Paraguai. Lá, negociou propinas com Del Nero e com o ex-presidente da Conmebol, Juan Napout.
Mas, na esperança de reverter a decisão, Del Nero tentou provar com documentos de imigração não ter viajado ao Paraguai para o suposto encontro citado por Burzaco, chefe de uma das empresas que pagou propinas por direitos de TV.
Limpa
Para a cúpula da Fifa, a punição contra Del Nero será vendida entre parceiros comerciais, patrocinadores e mesmo na Justiça americana e suíça como uma prova de terem desfeito todo o envolvimento com os envolvidos no maior escândalo de corrupção na história do futebol.
Nos EUA, a Fifa tenta reaver parte do dinheiro, alegando ter sido lesada justamente por cartolas que, durante anos, comandaram o futebol e se utilizaram da entidade para enriquecimento ilícito.
Depois de mudar de presidente, de secretário-geral, de afastar mais de uma dezena de cartolas e prometer fazer reformas, com Del Nero punido, a Fifa agora vai insistir na tese de ter, finalmente “virado a página”.
O problema, segundo seus críticos, é se os escândalos continuarem surgindo. Nesta semana, um dos membros do Conselho da Fifa, Constant Omari, foi preso no Congo, suspeito de corrupção no futebol.