Sem atuaçăo prévia na gestăo pública ou na vida parlamentar, o governador eleito do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), era uma incógnita no meio político até entrar na disputa pelo Palácio do Buriti. Assim que ele se consagrou campeăo da corrida pelo governo, uma dúvida surgiu entre representantes da máquina pública, de sindicatos, do setor produtivo e de parlamentares: qual será o perfil adotado pelo futuro chefe do Executivo local, que toma posse em 1º de janeiro?
Antes mesmo de assumir o cargo, Ibaneis começou a dar sinais de qual será seu estilo de comando. Ele nega que seja centralizador e promete delegar tarefas, mas já antecipou que concentrará atribuiçőes importantes, como a articulaçăo política. Diplomático, abaixou o tom ríspido da campanha e fez elogios ao adversário, Rodrigo Rollemberg (PSB), ao lado de quem terá que conduzir a transiçăo. Sinalizou ainda que pretende ouvir a sociedade organizada antes de tomar decisőes importantes — até a escolha de secretários passou por consultas a segmentos interessados em cada área.
Essa ânsia de agradar a vários setores e de fugir de embates, entretanto, pode trazer empecilhos a Ibaneis, sobretudo diante da dificuldade em chegar a consensos com relaçăo a algumas decisőes. A escolha do futuro secretário de Saúde é um exemplo. Na última terça-feira, o governador eleito anunciou que divulgaria o nome do futuro chefe da pasta no fim do dia, após uma série de reuniőes com representantes do segmento.
Ele ouviu integrantes de sindicatos de médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, e de especialistas na área, como o ex-secretário de Saúde Jofran Frejat. Mas, depois da bateria de encontros, năo chegou a um nome para a secretaria. Ainda sem um titular capaz de agradar a integrantes de todas as carreiras da saúde, a saída foi criar uma equipe de transiçăo, que discutirá os principais problemas do sistema de atendimento médico, para só depois anunciar o escolhido. Além da Secretaria de Saúde, o emedebista já anunciou que pretende criar ainda uma pasta específica para cuidar apenas da atençăo básica de saúde.
Outra promessa de campanha foi cumprida na primeira semana da transiçăo. Após a eleiçăo da listra tríplice de delegados para a escolha do cargo de diretor-geral da Polícia Civil, Ibaneis Rocha anunciou que nomeará o mais votado: Robson Cândido teve 242 votos na eleiçăo interna da categoria, realizada na última quarta-feira. O atual comandante da instituiçăo, Eric Seba, nomeado por Rollemberg, também havia ficado em primeiro lugar entre os delegados.
Acostumado a lidar com o poder após administrar a Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB-DF) por três anos, o emedebista garante que năo é centralizador. “Sou de delegar e cobrar resultados. Vou anotando as tarefas que passo para depois exigir respostas. O governo tem dia para começar e para terminar, entăo teremos que tomar medidas e exigir os resultados com rapidez”, explica.
A decisăo de aumentar o número de secretarias é usada por Ibaneis como exemplo de que privilegia sempre a delegaçăo de tarefas. Ele lembra que a OAB-DF tinha 50 comissőes, cada uma responsável por temas específicos e que, por isso, sabia sempre a quem recorrer quando precisava tratar de algum assunto. “Com mais secretarias, terei de quem cobrar cada tarefa, por mais específica que seja”, acrescenta o governador eleito. “Em algumas pastas estratégicas, como saúde, educaçăo, segurança e obras, quero estar sempre junto. E, nessas áreas, năo haverá indicaçőes políticas”, garante.
Coordenador de campanha de Ibaneis e confirmado como secretário de Fazenda da futura gestăo, André Clemente diz que o chefe “é uma pessoa de grupo”. “Ele tem uma necessidade enorme de conhecer todas as áreas, năo necessariamente de controlá-las. Ele delega muito e exige resultados sempre”, garante Clemente. “Grandes líderes têm sempre măo boa para escolher pessoas e formar equipes de credibilidade”, acrescenta o auditor da Fazenda.
Impulso
Outra característica do perfil de Ibaneis que já transpareceu ainda na transiçăo é que, muitas vezes, ele age por impulso. Um exemplo foi o anúncio de que o empresário José Humberto Pires ocuparia a Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Desejoso de ter Pires em seu secretariado, o governador eleito anunciou seu nome, mas, logo depois da divulgaçăo, o empresário divulgou nota para esclarecer que năo aceitaria o convite “por conta de compromissos institucionais e profissionais”.
O emedebista indicou ainda que pretende manter relaçőes institucionais fortes na Esplanada dos Ministérios. Além de visitar o presidente da República Michel Temer um dia após as eleiçőes, Ibaneis sinalizou por várias vezes que quer um bom relacionamento com o presidente eleito, Jair Bolsonaro. Disse que vai consultá-lo para escolher o secretário de Segurança e declarou voto no capităo da reserva.
Ibaneis visitou ainda a Câmara Legislativa e o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, nos primeiros dias de gestăo. Numa sinalizaçăo de que quer boas relaçőes com outros estados, já esteve com os governadores eleitos de Goiás e de Săo Paulo, Ronaldo Caiado (DEM) e Joăo Doria (PSDB).
Troca de poder
A primeira semana
Desde que foi eleito, o advogado Ibaneis Rocha (MDB) tem buscando o diálogo com personalidades do meio político e jurídico. Na segunda-feira, esteve no Palácio do Planalto com o presidente Michel Temer, para tratar de recursos para o Distrito Federal, e com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli.
No dia seguinte, Ibaneis foi à Câmara Legislativa, para conversar com os deputados distritais sobre o orçamento para 2019.
Na quarta-feira, embarcou para Săo Paulo, onde esteve com o governador eleito, Joăo Doria (PSDB). Ontem, houve um novo encontro com o tucano, no hotel onde Ibaneis está hospedado. Dessa vez, participou também o governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC).