Quando começou a namorar o mecânico industrial Davidson Gomes, de 32 anos, a professora Rosana Silva, 36, não imaginava que ao fim da relação iria estar com o nariz quebrado, um tímpano perfurado e cicatrizes de mordida de cachorro na perna — além de sequelas psicológicas. Em quase dois anos anos, o relacionamento que mantinha com o homem foi marcado por muitas agressões. O motivo de todas elas foi o ciume doentio do ex.
“Quando eu começava a ficar bem, ele aparecia. Ele chegava a pular o muro da minha casa, aparecia aqui duas, três horas da manhã…. isso não era vida”, resumiu a professora de Japeri, na Baixada Fluminense, ao relembrar os momentos ao lado de Davidson, morador de Duque de Caxias.
O ápice das agressões aconteceu em uma sessão de quase doze horas de tortura, submetidas na casa do agressor. Durante praticamente todo o domingo de 17 de fevereiro, ela foi alvo de agressões, xingamentos, tapas, socos, empurrões e impedida de deixar o local. Tudo isso por que tinha levado o filho de 10 meses do casal à praia.
“Ele dizia que eu estava com um homem e não com o nosso filho e que eu era mentirosa, que nunca falava a verdade para ele”, a professora lembra, afirmando que eles estavam de carro e que chegou a relutar em deixá-lo em sua casa, prevendo o pior. “Quando parei o carro, pedi para ele sair e ele pegou a chave da ignição. Eu desci e sai correndo, mas estava de tamanco e não fui muito longe”.
Ali, no meio da rua, Davidson a agarrou, lhe deu um soco e forçou a entrada dela na casa dele. Rosana lembra que se sentiu “nocauteada”, percebendo um “estouro” no ouvido por causa da força da agressão. Ela não fazia ideia ainda, mas seu tímpano havia sido danificado.
“Eu dizia que ele havia me deixado surda, mas ele rebatia dizendo que eu estava mentindo. Foi então que ele me deitou na cama e ali percebi que ele iria fazer mais alguma coisa comigo”, afirma, dizendo que avisou que iria lutar pela vida dela, mas pela força do mecânico não conseguiu se desvencilhar. “Cheguei a ficar de cabeça para baixo na cama, quase quebrando a coluna. Quando ele via que eu estava prestes a desmaiar, parava”.
Foi assim pelas doze horas seguintes até que Davidson “cansou”, após, inclusive, ter uma unha sua arrancada por causa da intensidade das agressões. Ele mandou que Rosana tomasse banho para não sair suja de sangue e “tomasse cuidado com o que iria dizer”.
Ela dirigiu até encontrar policiais, que a levaram ao Hospital Adão Pereira Nunes, em Saracuruna. A professora ficou um dia internada na unidade de saúde.
Nariz quebrado
Cerca de duas semanas antes da sessão de tortura, Rosana teve o nariz quebrado em uma das várias discussões com o então namorado. O mecânico perguntou sobre uma foto em que ela estava na praia em maio de 2017, um mês após o início do namoro.
“Ele perguntou quem era a pessoa e eu disse que era um amigo. Só que ele ficou com raiva, dizendo que na época já estávamos namorando e que por isso não era para eu ir na praia com ninguém, a não ser com ele”, relembra, dizendo ter sido agredida em seguida.
Mordida de cachorro
Nem o cachorro de Davidson escapou dos episódios de fúria do mecânico. Em um dos acessos de raiva dele, um dos primeiros, o seu rottweiler foi espancado porque ele estava com raiva da namorada. Tudo porque Rosana foi direto para a casa dele ao invés de esperá-lo no ponto de ônibus em um dia em que eles combinaram de ele a encontrar.
“Falei que daquele jeito ele iria matar o cachorro. O animal ficou uma semana arriado”, diz.
O rottweiler esteve envolvido em outra briga do casal, mas, desta vez, a mulher foi a agredida. Na ocasião, ela ffoi tentar sair abruptamente da casa do namorado, mas ele a prendeu na porta da casa. Davidson, então, atiçou o cachorro para mordê-la. “Ele abocanhou a minha perna. Começou a jorrar sangue. Eu não aguentei e cai no chão. Achei que iria perder a minha perna”, conta.
Demitida do TJRJ
A relação abusiva com Davidson custou também o emprego que Rosana havia conseguido no setor de custos do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ). Ela foi mandada embora depois que ele ameaçou uma colega de trabalho, fazendo ligações e dizendo que, na verdade, ela era um amante da professora e que iria até lá matá-lo.
“Ela entrou em desespero e falou com a chefia. Quando cheguei em um dia de trabalho, estavam vários seguranças na porta, uma confusão e eu sem entender nada, até que fui afastada”, lamenta.
Depois que todo o horror que passou, Rosana viu Davidson ser preso na última semana. Ele foi detido no local do trabalho, na Reduc, após a Justiça emitir um mandado de prisão temporária enquadrado na Lei Maria da Penha, pelo crime de crime de tortura, cárcere privado e ameaça.
“Na delegacia, ele negou tudo e não mostrou arrependimento. Foi indiciado e agora vou pedir a conversão da prisão temporária em preventiva”, conta a titular da Deam de Duque de Caxias, a delegada Fernanda Fernandes.