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A USINA DO BONDE DE CAMPO GRANDE
Techo de Fragmentos do Rio Antigo – André Mansur e Ronaldo Morais
Para quem chega ao bairro de Campo Grande, na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, pela Estrada do Monteiro, logo se depara com a imponente construção de 1917 da antiga Oficina de Manutenção dos Bondes, mais conhecida como Usina do Bonde, que dá as boas-vindas aos visitantes, simbolizando o transporte que ainda está na memória de muita gente na região.
O prédio, tombado pelo Município em 1996, hoje é ocupado pela Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb) e ainda mantém trilhos da época em que era usado para o reparo do simpático meio de transporte que durante muitas décadas atravessou aquela região. A primeira linha de bondes de Campo Grande foi criada em 16 de outubro de 1894, ligando o bairro à localidade de Santa Clara, no caminho para a Pedra de Guaratiba. Ainda não era uma linha de passageiros, mas principalmente de transporte de capim para animais, ressaltando que este bonde era movido à tração animal. Somente em 1908, os bondes de Campo Grande começaram a transportar passageiros e, em 1917, eles foram eletrificados, no mesmo ano em que os moradores de Campo Grande passaram a ter luz elétrica em casa.
A partir daí, surgiram as linhas Campo Grande – Pedra de Guaratiba, Campo Grande – Ilha de Guaratiba e Campo Grande – Rio da Prata. O transporte, que era particular, foi municipalizado em 1937, passando a fazer parte do Serviço de Transporte Rural (STR). O Guia Rex do Rio de Janeiro trazia os percursos do bonde de Campo Grande em 1949:
– MONTEIRO: Estação de Campo Grande, Rua Ferreira Borges, Rua Coronel Agostinho, Avenida Cesário de Melo, Estrada do Monteiro e Estrada do Magarça.
– SANTA CLARA: Estação de Campo Grande, Rua Ferreira Borges, Rua Coronel Agostinho, Avenida Cesário de Melo, Estrada do Monteiro e Estrada do Magarça.
– RIO DA PRATA: Estação de Campo Grande, Rua Ferreira Borges, Rua Aurélio de Figueiredo, Estrada do Cabuçu e Praça Mário Valadares (atual Praça Elza Pinho Osborne).
– PEDRA DE GUARATIBA: Estação de Campo Grande, Rua Ferreira Borges, Rua Coronel Agostinho, Avenida Cesário de Melo, Estrada da Pedra, Rua Belchior da Fonseca e Praça Raul Barroso .
Em 1964, os bondes passaram a ser geridos pela Companhia de Transportes Coletivos (CTC), que mudou a cor verde-escura dos bondes do STR para azul e prata, além disso, fechou a linha Campo Grande – Ilha de Guaratiba em outubro daquele ano, a da Pedra de Guaratiba no ano seguinte e a do Rio da Prata em 1967. O prédio que hoje simboliza solitariamente o transporte de bondes na região, já que todos os bondes foram destruídos, teve um papel importante na última viagem do bonde em Campo Grande, no dia 30 de outubro de 1967, quando o veículo seguiu pela Estrada do Monteiro até a Usina dos Bondes, num percurso triste e melancólico, dando lugar a tempos bem menos românticos no transporte urbano da cidade do Rio de Janeiro.