Por Dr Marcelo Tinoco
A Revolução Industrial, o Empresário e as Funerárias…
A revolução impulsionou uma era de forte crescimento econômico nas economias capitalistas e existe um consenso entre historiadores de que o seu início foi o evento mais importante na história da humanidade desde a domesticação de animais e a agricultura. A Primeira ocorreu no final do século XVIII evoluiu para a Segunda, nos anos de transição entre 1840 e 1870, quando o progresso tecnológico e econômico ganhou força com a adoção crescente de barcos a vapor, navios, ferrovias, fabricação em larga escala de máquinas e o aumento do uso de fábricas que utilizavam a energia a vapor.
Esta transformação trouxe também o povo do campo para as cidades e com isso houve aumento da construção civil, emprego, comércio e renda. A revolução teve início na Inglaterra e em poucas décadas se espalhou para a Europa Ocidental e os Estados Unidos. E então o que era um doce laranjal como Campo Grande, começou a experimentar o custo elevado desse processo: o estresse.
Sabemos que empresas familiares raramente passam da segunda geração com vigor. Sabemos, ainda, que o ser humano cuida melhor de carros e empresas do que de si mesmos. Nessa era pós Revolução Industrial, o homem se dedica a ganhar a vida, gerar riqueza, mimar os filhos, a comer mais que o corpo pode gastar e isso aumenta o peso, que aumenta o diabetes, o câncer, o infarto, o derrame e morte. O homem moderno guarda calorias no corpo como quem guarda dinheiro no corpo e o conceito é tão vicioso que tem aumentado mais e mais a obesidade no planeta. Estou falando da obesidade porque é a principal doença humana, e dela rendas enormes são criadas tanto na indústria alimentícia, como na farmacêutica, quanto na hoteleira. Ocorre que já vimos empresas farmacêuticas falindo, vimos indústrias alimentícias quebrando, hospital fechando as portas. Algum cara pálida pode ciscar dizendo, Tinoco, mas a expectativa de vida do homem não está aumentando? Sim, está. Mas só está aumentando porque a tecnologia ajuda, os medicamentos melhoraram tudo de tal maneira que hoje, uma pessoa que ficou diabética recentemente, muito dificilmente experimentará as suas complicações ( cegueira, amputações, insuficiência renal, impotência, infarto e derrame), ou seja, isso é quase opcional. A medicina como um todo evoluiu e o que ocorreu com o saudoso Ilidio Rodrigues provavelmente teria tido um desfecho diferente. Se as pessoas se cuidassem melhor desde crianças, tivessem a cultura de que exercícios e boa alimentação, reduzir álcool, tabaco e açúcar, a expectativa de vida já seria maior que 100 anos. Por que somos assim? Por que deixamos para cuidar do corpo quando estamos com aquela dor aguda no peito ou depois de uma ponte de safena? Por que chegar a esse ponto? Por que eu cuido melhor do fusca 58 que de minha carcaça?
Culpa da revolução industrial. Porque ela trouxe o doce sabor do dinheiro e falso conforto da riqueza. E fundamentalmente, a incrível sensação de que o meu dinheiro pode me dar uma vida nova num estalar de dedos.
O Cemitério de Campo Grande está repleto de casos de homens ricos mas que não usufruíram da vida quando puderam. Não viveram com seus familiares quando podiam. Não viajavam. Não usavam chinelos. Porque era mais importante a pessoa jurídica que a física.
O ser humano precisa ser estudado. O cara calibra o pneu do carro, troca óleo, faz revisão de 15 mil Km, troca a película do celular, compra roupas novas e relógios mas não controla a pressão, o peso, o estresse, o colesterol e o diabetes e sedentarismo. Ele não tem tempo… O que será de sua família após a sua morte? Dinheiro não acaba? Vale a pena isso tudo? Esse custo alto?
Nessa história toda as únicas empresas que sempre vencerão são as funerárias: nunca fecham, nunca falem e nunca choram. Porque o público dela é feito de pessoas que inexoravelmente encurtam suas vidas por meio de maus tratos aos próprios corpos. Cuidar da empresa, enfim, mais de que a si mesmo, é não apenas pouco inteligente, como o principal motivo pela qual ela vai fechar alguns anos após a morte do fundador. Não é minha opinião. Isso é o que os fatos narram.
E contra fatos, não há argumentos: quantos dias no ano trabalharam e se expuseram ao estresse? E quantas vezes foram voluntaria e preventivamente ao médico?
Viram? Eu nunca erro com isso. Não tenho funerária porque escolhi lutar contra a morte. Mas SE eu tivesse um filho, e ele me perguntasse qual o melhor negócio pós revolução industrial, diante de tudo o que expus, não pensaria 2x: abra uma funerária. E ela nunca vai falir.
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