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As ações dos criminosos que matam, cobram impostos e recrutam centenas de jovens para o crime nas regiões mais pobres do Rio de Janeiro, não enchem de indignação setores da sociedade que normalmente reagem contra a Polícia quando em meio a um confronto e uma vida inocente é atingida por uma bala perdida.
Foi o que aconteceu com a pequena Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, morta com um tiro nas costas dentro de uma kombi no Conjunto de Favelas do Alemão , enterrada na tarde deste domingo (22) sob protesto e comoção.
O caso Ágatha ganhou visibilidade nacional por meio da imprensa onde setores pedem punição aos policiais supostos autores do disparo que matou a menina. Os policiais militares que estavam na ação sofrerão a sua primeira punição: entregar as armas que usavam e ficar de fora das ruas.
A profissão do policial militar, cuja missão é defender a sociedade, tornou-se no Brasil uma profissão ingrata e sem reconhecimento algum.
A morte de Ágatha fez o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) sugerir que o policial tem que ser punido, mesmo que na guerra insana contra traficantes, alguém morra de bala perdida.
Maia disse que o caso Ágatha reforça a necessidade de “uma avaliação no pacote anticrime do ministro Sérgio Moro”.
A proposta busca alterar o artigo do Código Penal, que aborda as causas de exclusão de ilicitude (estado de necessidade, legítima defesa e estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de direito), e o artigo de legítima defesa.
A proposta prevê ainda que o juiz possa reduzir a pena até à metade ou deixar de aplicá-la se o excesso do agente público ocorrer por “escusável medo, surpresa ou violenta emoção”.
No ano passado a família militar do Rio enterrou 95 policiais abatidos na guerra das favelas dominadas pelo crime.
O último da lista de 2018 foi o soldado Diego Mota Domingues, de 32 anos, pai de dois filhos lotado no 4º Batalhão. O militar foi surpreendido por dois homens em uma motocicleta, na véspera do Natal quando saia de casa para mais um dia de trabalho.
Neste mesmo domingo em que foi enterrada a pequena Agatha, também foram enterrados dois policiais militares do Rio de Janeiro.
Felipe Brasileiro, 34 anos e Leandro de Oliveira, 39 anos não morreram de balas perdidas. Eles foram alvos dos tiros certeiros dos fuzis engatilhados por criminosos que dominam as regiões mais populosas e mais pobres do Rio.
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No velório dos policiais mortos a comoção ficou restrita apenas aos seus familiares e amigos da corporação. Não houve protesto, apenas um registro tímido no Jornal Nacional.
O menosprezo da sociedade foi assim com os últimos 45 policiais mortos neste ano de 2019 até esta segunda-feira (23) no Rio de Janeiro.
Ninguém se comove com as suas tragédias. Treinados para não revelarem suas próprias dores, policiais militares enfrentam números explosivos de problemas.
Parece que o trabalho desses guerreiros se limita a morrer pela sociedade, seja por meio do confronto com os bandidos ou pelo suicídio.
Em cortejos isolados ignorados pela sociedade eles se vão sob o toque de silencio da corneta e da dor de suas famílias.



