Em meio ao trânsito intenso da Avenida Brasil, um homem que vive numa cracolândia na altura de Bonsucesso tenta vender um celular a um motorista. A oferta acontece livre de qualquer repressão. A cena, flagrada na manhã de domingo, é um retrato de uma espécie de feirão de aparelhos roubados que se formou nas margens da via. Até adolescentes são vistos atuando nesse mercado para pagar os gastos com o crack.
O delegado Welington Vieira, titular da 21ªDP (Bonsucesso), afirma que pelo menos 38 pessoas envolvidas com esse crime na região foram identificadas. O grupo é apontado como responsável tanto por praticar roubos de aparelhos como por colocá-los à venda.
— Há muito tempo a Polícia Civil vem monitorando as atividades do grupo. Alguns já estão presos. Mas o problema pede ação conjunta de órgãos, sobretudo da Prefeitura do Rio. Temos inquéritos instaurados, e, em todos, foi pedida a prisão dos autores dos roubos — disse Vieira.
Segundo o delegado, o celular é o principal alvo dos usuários de crack:
— Ali (a cracolândia) é um foco que envolve tudo de ruim. A droga está do outro lado da rua, e o crack custa barato. Mas os dependentes precisam de dinheiro e acabam se transformando em ladrões.
A venda de celulares roubados acaba se tornando mais fácil porque o IMEI — sequência numérica que todo aparelho ganha quando é fabricado, comparada ao chassi dos carros — vem sendo adulterado e clonado no Rio. A denúncia é de Eduardo Levy Moreira, presidente executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (SindiTelebrasil). De acordo com ele, quadrilhas que já dominam a tecnologia estariam atuando em bancas de camelôs do Centro. Um dos pontos, afirma, é o camelódromo da Uruguaiana.
Como o EXTRA revelou neste domingo, apenas nos oito primeiros meses deste ano foi registrado um roubo de celular a cada 40 minutos no Rio, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP). Considerando os registros das delegacias, foram 8.855 casos de janeiro a agosto, contra 6.280 no mesmo período de 2016. O aumento é de 41%.
A Anatel informou que, até agosto deste ano, foram bloqueados pela Secretaria de Segurança do Estado do Rio 7.585 aparelhos roubados, furtados ou extraviados. Os números não incluem bloqueios realizados pelas próprias operadoras. A Secretaria de Segurança aderiu ao projeto “Celular legal”, criado pela Anatel em maio do ano passado.
Em caso de roubo, furto ou perda do celular, o proprietário do aparelho consegue apagar remotamente todo o seu conteúdo.
Para impedir o reuso do aparelho, é necessário informar o número do IMEI à empresa de telefonia ou à Anatel. O número consta na caixa em que veio o aparelho. Quem não guardou o código basta digitar *#06# no teclado do celular, e a sequência aparecerá na tela.
Se o número fixado na caixa for diferente do que aparece na tela, muito provavelmente o aparelho é irregular.
TEXTO: EXTRA