Por Deisiane Gomes
Hoje acordei e uma onda de pensamentos me invadiu, lembrei do início, quando descobri que estava grávida, eu não imaginava que aquela fraqueza no corpo e aquele sono incontrolável era um pequeno ser que desenvolvia, cheguei a pensar que estava com anemia “das brabas”.
Fui até a emergência para fazer um check-up mas não deu em nada, lembro então que comprei um teste de farmácia e ao dar positivo meu coração encheu-se de esperança e alegria, em seguida confirmei com o exame de sangue, sim estava grávida e com seis semanas e quatro dias.
Para quem pensa que a gravidez é simples e fácil, para muitas não é, passei por cada uma, no início eu comia de tudo, e no dia da consulta a doutora me pesou e me deu os parabéns eu havia ganhado somente 1 kg. Fiquei feliz e saí de lá saltitante, então decidi que pelo meu filho iria me alimentar melhor e que ia cortar as besteiras e o açúcar e assim fiz, porém comecei a ganhar mais quilos que o permitido a cada mês, meu bebê estava crescendo e ganhando peso aceleradamente. A obstetra me pediu para fazer três vezes exames de sangue para verificar a glicose, pois suspeitava de diabete gestacional, mas graças a Deus não tive, todos os exames deram negativos, porém meu bebê não parava de crescer eu ficava tensa, ele estava com 29 semanas com tamanho de um bebê de 32 semanas, nesta época eu ia trabalhar de trem, e um dia ao voltar para casa com sete meses de gravidez o trem estava lotado e começou uma briga justamente no vagão que estávamos, eu estava de pé e quando a correria começou eu só pensava na minha barriga, eu estava no meio do tumulto, a multidão vinha na minha direção e ao tentar correr para proteger meu bebê senti alguém me puxando, aquele homem era um anjo de Deus, não sei como, mas ele arrumou um canto no trem e me protegeu e uma outra mulher que estava com um bebê de oito meses no colo.
Não sei o nome dele mas me lembro perfeitamente do seu rosto, se não fosse aquele anjo o pior poderia ter acontecido, foram uns quinze minutos de tensão, um homem ensanguentado passou por nós tentando escapar dos ataques dos ambulantes, disseram que ele havia abusado de uma mulher dentro do trem e por isso apanhava, os passageiros bloquearam as portas e não deixaram o abusador descer.
Com isso seguimos por algumas estações em meio a confusão, na hora da correria o homem que nos protegia foi atingido por um soco e começou a sangrar, mesmo assim ele não desistiu e permaneceu nos protegendo, enfim o abusador desceu e seus agressores também, então o anjo vestido de homem disse: “já está tudo bem eles já desceram fica calma”, eu o agradeci de todo o meu coração, e ele se foi, seguiu seu destino. No dia seguinte pós estresse era um feriado e meu bebê que costumava mexer muito não mexeu e me deixou muito preocupada, então fui a emergência para verificar se ele estava bem, graças a Deus ele estava ótimo e assim que saí do hospital ele voltou a mexer como sempre, na semana seguinte sem querer ao comer uma maçã, engoli um pedaço do ferro de dois centímetros e meio do aparelho dentário e lá fui eu para emergência novamente, fiz um raio X e mais uma vez, foi só um susto, tudo estava bem. Decidi ir para o trabalho de carro para não passar por situações como a do trem novamente porém meus planos foram interrompidos quando a obstetra aos oito meses me proibiu de dirigir por causa da barriga, ela havia perdido uma paciente que teve mal súbito e perdeu o bebê em uma batida de carro, daí voltei a pegar condução, desta vez tentei o BRT. Com quase neve meses o BRT lotado, ninguém dava o lugar e ainda empurravam sem dó nem piedade. Com 33 semanas passei mal ao chegar no trabalho após a guerra diária do BRT com duas horas e meia de viagem de ida com três horas e meia de volta para casa, tudo isso em pé, as pessoas fechavam os olhos e fingiam dormir para não ceder o lugar, enfim ao chegar na emergência descobri que estava tendo contrações por causa do esforço físico a médica da emergência me deu sete dias de atestado e mandou eu decidir ou eu voltava dirigir ou meu bebê ia nascer dentro do BRT, então por minha conta e risco sem contar para minha obstetra, voltei a dirigir, só que eu não imaginava que meu bebê que continuava crescendo rapidamente iria antecipar sua chegada. Quando completei 34 semanas minha obstetra me deu mais sete dias e o bebê já estava na posição e poderia nascer a qualquer momento, então ao fazer o ultrassom a médica não teve dúvidas, era a hora dele nascer!
Com 36 semanas ele veio ao mundo através de um cesariana, a placenta havia envelhecido e ele tinha que nascer logo, então Enzo chegou ao mundo com 3.2 kg com 49 cm no dia 4/10/2019 às 18:21h, e nos encheu de felicidade e amor. Naquele dia senti um misto de emoções, eu sabia dos riscos, mas com Deus no coração e uma equipe médica qualificada tudo ocorreu perfeitamente, através das mãos do doutora Maria Helena, ele veio ao mundo com um choro forte e alto.
Agradeço a doutora Maria Helena e toda sua equipe, em especial também destaco o hospital Nossa Senhora do Carmo, onde fomos muito bem atendidos!
Obs: Não posso esquecer também do anjo que nos protegeu dentro do trem, não sei o seu nome, mas sei que se ele ler isso vai lembrar de nós e saber que seremos eternamente gratos!