TEATRO RURAL DO ESTUDANTE
A história da Lona Cultural Elza Osborne está ligada à criação do Teatro rural do Estudante, um ousado projeto cultural na então Zona Rural do Rio de Janeiro liderado pelo estudante de Direito Herculano Leal Carneiro e contando com nomes como Rogério Fróes, Francisco Nagem, Dineyar Valente Plaza, Sérgio Leal Carneiro e Carlos Branco, entre outros.
O teatro foi fundado em 14 de julho de 1952, seguindo a linha do Teatro Rural do Estudante do Brasil, fundado por Paschoal Carlos Magno, e tinha como principal função formar plateias e oferecer espaço aos artistas da região. Depois de algumas sedes provisórias, o grupo recebeu o apoio de uma mulher que seria muito importante para Campo Grande: Elza Pinho Osborne, engenheira e então chefe do Distrito de Obras na região, que obteve a doação de lotes de um terreno perto da linha de trem de Campo Grande. Foi ali que o grupo ganhou um espaço fixo para montar um teatro de arena. A pedra fundamental foi lançada pelo presidente da República, Juscelino Kubitschek, em 1º de setembro de 1956, com a presença do governador do Rio de Janeiro, Negrão de Lima, lembrando que nessa época a cidade do Rio de Janeiro era a capital do país e a zona rural do Rio, com toda a força econômica baseada na agricultura e na pecuária, e constantemente cortejada por políticos das mais altas esferas de poder.
A ideia de Elza Osborne, no entanto, era mais ousada. Ela conseguiu que Affonso Eduardo Reidy, o arquiteto autor do projeto do Museu de Arte Moderna, o MAM, fizesse, sem cobrar, o projeto arquitetônico do Teatro Rural do Estudante, incluindo escola de música, alojamentos, sala de leitura, cinemateca e uma sala para 200 pessoas. O projeto não saiu do papel, apenas as fundações foram feitas, mas os atores seguiram em frente, agora com o apoio do cenógrafo Miguel Pastor.
Entre os grandes momentos do grupo, está o 1º lugar no Festival Nacional do Teatro do Estudante, em Recife, com a peça Zé do Pato, de Elza Osborne, que também foi encenada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Na década de 1980 foi que voltaram a surgir iniciativas culturais naquele espaço, como o cineclube o projeto “Se não chover”, organizado pela filha de Herculano, Lina Paula Carneiro. Em 1986, quando o teatro era dirigido por Regina Pierini e seu marido, Ives Macena, surgiu outro projeto interessante, o “Cubra a arena e descubra nossa arte”.
A situação só mudou mesmo a partir de 18 de maio de 1993, com a inauguração da Lona Cultural de Campo Grande, uma luta de Ives e Regina, e que logo se tornou um dos principais projetos culturais da Prefeitura do Rio, levando shows e outros eventos a vários bairros da Zona Oeste e do subúrbio. Ives teve a ideia de cobrir a arena do teatro após a Eco-92, o evento internacional de meio-ambiente realizado no Rio de Janeiro em 1992, e que utilizou lonas durante palestras e shows ocorridos no Parque do Flamengo. Apesar do sucesso até hoje, a verdade é que o projeto de Affonso Reidy para a sede do Teatro Rural do Estudante, cujas fundações chegaram a ser lançadas, continua firme e forte, afinal, aquele talentoso e idealista grupo de artistas da antiga zona rural do Rio de Janeiro (muitos continuam a morar no bairro e atentos às movimentações culturais) não deixa de lutar até hoje por um teatro de qualidade e voltado, principalmente, para a formação de público num lugar tão distante dos centros culturais da cidade.
* Fotos do lançamento da pedra fundamental do Teatro Rural do Estudante e da inauguração do busto de Paschoal Carlos Magno, com a presença do presidente da República, Juscelino Kubitschek, em 1º de setembro de 1956. Fonte: Arquivo Nacional. Pesquisa de imagens: professor Guaraci Rosa.
* Este texto está no livro O Velho Oeste Carioca II, de André Luis Mansur.