Ceilândia, DF — Um dia antes de completar 22 anos, Camila Messias Moraes foi à emergência da Unimed Asa Sul com dor intensa no peito e dormência nos braços. Saiu algumas horas depois medicada para ansiedade. Às 7 h da manhã de 26 de junho de 2025, foi encontrada sem vida no apartamento onde morava, vítima de tamponamento cardíaco e ruptura de aneurisma da artéria aorta, segundo laudo do Instituto Médico‑Legal. A tragédia — que revela uma sucessão de sinais ignorados — reacende o debate sobre a subestimação de sintomas cardíacos em mulheres jovens.
📅 Linha do tempo
- 25 de junho, 14 h — Camila chega ao pronto‑atendimento. O eletrocardiograma apresenta alterações, mas a equipe considera baixa a probabilidade de infarto. Recebe medicação ansiolítica, atestado de um dia e alta.
- 26 de junho, 6 h40 — Vizinhos ouvem barulho, mas acham que a jovem ainda dormia.
- 6 h55 — Um parente estranha o silêncio, arromba a porta e a encontra inconsciente.
- 7 h05 — Bombeiros constatam parada cardiorrespiratória; óbito é declarado no local.
🔍 O que diz o laudo
A necropsia concluiu que Camila infartava havia pelo menos três dias, quadro que evoluiu para tamponamento (acúmulo de sangue no pericárdio que impede o coração de bater) e, por fim, a ruptura da aorta — lesões fatais quando não tratadas rapidamente.
👪 Dor e indignação da família
Para Amanda Moraes, irmã da vítima, o pronto‑socorro falhou no primeiro e mais decisivo passo: reconhecer os sinais de um coração em colapso.
“Disseram ao nosso primo, que é enfermeiro, que pensaram que a Camila era só mais uma garota querendo atestado”, relata Amanda.
A família protocolou denúncia por negligência médica no Conselho Regional de Medicina e pretende mover ação cível. Eles defendem que exames complementares — como enzimas cardíacas e tomografia — fariam diferença entre vida e morte.
🏥 Posição da Unimed
Em nota, a cooperativa afirma que o eletrocardiograma apontou baixo risco e que a paciente “não apresentava fatores clássicos de risco cardiovascular”. A Unimed diz colaborar com as autoridades e abrir auditoria interna, mas não detalhou por que exames adicionais não foram solicitados.
❗ O alerta dos especialistas
Cardiologistas consultados lembram que mulheres jovens têm maior chance de receber diagnóstico de ansiedade quando sentem dor torácica — um viés documentado em estudos internacionais. “Até 20 % dos infartos em mulheres aparecem com testes iniciais pouco conclusivos. Por isso, se há sintoma típico, é prudente insistir em investigação”, ressalta o cardiologista Vinicius Peixoto.
Outro ponto crítico é o aneurisma de aorta, muitas vezes silencioso. “Quando o vaso se rompe, a mortalidade ultrapassa 80 % fora do centro cirúrgico. A chance de sobrevida é diretamente proporcional à rapidez do diagnóstico”, explica a cirurgiã vascular Tânia Carvalho.
📝 Próximos passos
O inquérito policial deve ouvir médicos e testemunhas nas próximas semanas. Enquanto isso, a família aguarda a conclusão da auditoria da Unimed e estuda pedir danos morais e materiais.
Em memória de Camila, a história deixa um lembrete urgente: dor no peito nunca deve ser banalizada, especialmente quando acompanhada de outros sintomas. Cada minuto conta — e confiar no instinto do paciente pode ser a diferença entre vida e morte.