O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), colocou em pauta a votação de urgência do Projeto de Lei da Anistia, proposta que reacende debates sobre os rumos da política nacional. A medida, se aprovada, poderá beneficiar milhares de manifestantes que participaram de atos políticos desde 30 de outubro de 2022, mas deixa de fora um nome central da oposição: o ex-presidente Jair Bolsonaro.
O projeto, originalmente apresentado em 2023 pelo deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), prevê o perdão para cidadãos que, de diferentes formas, participaram ou apoiaram manifestações de cunho político ou eleitoral. Isso inclui não apenas presença física em protestos, mas também doações financeiras, apoio logístico e até publicações de incentivo nas redes sociais. Na prática, a proposta poderia anistiar envolvidos nos bloqueios de rodovias realizados por caminhoneiros após a derrota de Bolsonaro nas eleições e, sobretudo, participantes dos atos extremistas de 8 de janeiro de 2023.
No entanto, o texto exclui explicitamente Jair Bolsonaro e outros sete condenados por participação na tentativa de golpe de Estado. Essa cláusula é vista como uma vitória parcial do governo e um revés para a oposição, que esperava garantir a proteção política do ex-presidente dentro da proposta.
A aprovação da urgência do projeto tem impacto significativo: o texto poderá ser levado diretamente ao plenário da Câmara dos Deputados, sem a necessidade de passar por comissões temáticas. Isso acelera o processo legislativo e aumenta as chances de o tema ser votado ainda neste semestre.
O projeto de anistia divide opiniões no Congresso e na sociedade. Para aliados da oposição, trata-se de um gesto de pacificação nacional, necessário para encerrar a tensão política e judicial instaurada após as últimas eleições. Já para críticos, a proposta configura uma tentativa de esvaziar a responsabilização de atos antidemocráticos, enfraquecendo a justiça e premiando quem afrontou as instituições.
O fato de Bolsonaro não estar incluído no perdão amplia ainda mais a polarização. De um lado, setores bolsonaristas veem a exclusão como perseguição política direcionada. De outro, defensores da medida ressaltam que a diferenciação é fundamental, já que o ex-presidente ocupava posição de comando e teria responsabilidade direta sobre a escalada dos protestos.
Com a tramitação acelerada, o Projeto de Lei da Anistia deve se tornar um dos principais focos da cena política nas próximas semanas, colocando novamente Jair Bolsonaro no centro do debate nacional — desta vez, como a grande exceção em um possível pacto de perdão.