Os 200 anos de história do país foram queimados.” Em entrevista ao canal GloboNews, a avaliação de Luiz Fernando Dias Duarte, vice-diretor do Museu Nacional, fornece um resumo trágico do resultado do incêndio que devastou a mais antiga instituição científica do Brasil. Após os bombeiros controlarem o incêndio principal, em um trabalho que só foi concluído às 3h desta segunda-feira (03 de setembro), os pesquisadores iniciaram a avaliação das perdas do acervo. E, como já se temia, o estrago foi irreparável.
O físico Ildeu de Castro Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), publicou em sua página do Facebook um relato do professor Paulo Buckup, que se reuniu a outros pesquisadores para tentar salvar parte do acervo durante o incêndio. “O prédio principal (Palácio da Quinta da Boa Vista) foi perda total, com a possível exceção da coleção de material tipo de moluscos que pude ajudar a salvar graças ao Claudio (técnico da Coleção) que nos guiou em meio à escuridão”, escreveu o professor do programa de pós-graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Os funcionários que participaram do mutirão dos últimos momentos estão de parabéns pela coragem e dedicação, embora muito pouco tenhamos conseguido fazer.”
De acordo com o relato de Buckup, as principais perdas aconteceram nos itens expostos e nas coleções que estava no prédio principal. Ele enumera o patrimônio mais atingido: “arquivo e acervo histórico, maior parte das coleções entomológicas, antropológicas, coleções de aracnologia, e crustáceos. O acervo de paleontologia e mineralogia talvez possa ser parcialmente resgatado se for feito um trabalho cuidados após o rescaldo. Das coleções de vertebrados, perderam-se os exemplares das exposições antigas que seriam incorporados na nova exposição, mas a maior parte do acervo científico está preservada”.
Entre as possíveis perdas, há verdadeiras relíquias da história, como o crânio de Luzia, o mais antigo registro humano das Américas que foi encontrado em Lagoa Santa (MG).Além de itens históricos dos povos que formaram o país, o Museu Nacional também abrigava uma acervo com objetos da Antiguidade greco-romana e até a maior coleção de história egípcia da América Latina.
Em uma imagem gravada por cinegrafistas da TV Globo, é possível verificar que o meteorito do Bendegó não foi destruído pelas chamas: descoberto em 1784 no interior da Bahia, é o maior já encontrado no país e pesa 5,36 toneladas. Composto de ferro e níquel, mede mais de dois metros de comprimento.

O Palácio de São Cristovão, antiga residência da família imperial que se tornou a sede do Museu Nacional, não tinha infraestrutura para a prevenção de incêndios. Desde 2014, o museu recebia apenas parcialmente a verba anual de R$ 520 mil destinada à conservação do local. Em comemoração aos 200 anos da instituição, em junho deste ano, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) assinou uma linha de investimento de R$ 21 milhões junto aos administradores do museu para a instalação da estrutura de segurança. Não deu tempo.
Durante as primeiras horas do incêndio, os bombeiros tiveram dificuldades para combater o fogo porque os hidrantes do local estavam descarregados. Foi necessário utilizar caminhões-pipa e a água de um lago do parque da Quinta da Boa Vista para que os 80 homens do Corpo de Bombeiros conseguissem controlar as chamas.
Algumas partes do museu desabaram e, mesmo após o controle do incêndio principal, ainda era possível notar pequenos focos de fogo na manhã desta segunda-feira. O início das chamas começou às 19h30, por motivos ainda não especificados. Não há registros de mortos ou feridos.