Um grupo de bandidos armados sequestrou um médico na madrugada deste domingo dentro da UPA do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio. O profissional foi obrigado a entrar numa ambulância, que foi roubada pelos criminosos, para acompanhar a transferência de um traficante baleado para outra unidade de saúde. A polícia suspeita que o bandido tenha sido levado para um hospital clandestino do tráfico. O episódio está sendo investigado pela 21ª DP (Bonsucesso).
O caso ocorreu por volta de 1h deste domingo. Cerca de 50 criminosos invadiram a UPA da Maré e exigiram que os profissionais atendessem um bandido que tinha sido baleado em um dos braços. O tiro atingiu uma artéria e seu estado de saúde era extremamente grave. Como o ferido precisava de uma cirurgia, os médicos informaram que seria necessário transferi-lo para outra unidade de saúde. Os traficantes, no entanto, queriam levá-lo para outro local, possivelmente um hospital clandestino, utilizando a ambulância da UPA, o que não foi aceito pelos profissionais.
Os criminosos retiraram o motorista da ambulância, um deles vestiu seu jaleco e assumiu a direção do veículo. Como o estado de saúde do paciente era extremamente grave, levaram um médico junto. O profissional foi liberado pelos bandidos por volta das 7h deste domingo, na Baixada Fluminense. Já a ambulância foi deixada na UPA da Maré por volta das 11h30.
O motorista da ambulância prestou depoimento na 21ª DP. Ele afirmou que estava de plantão na UPA do Engenho Novo quando recebeu uma ordem da adiministração para ir até a unidade da Maré, onde havia um baleado para ser transferido. Ao chegar na UPA, segundo o motorista, os criminosos tiraram dele as chaves da ambulância e seu jaleco, e entraram no veículo para transportar o criminoso baleado. Ainda de acordo com o relato, o médico foi obrigado a entrar na ambulância, que tinha GPS. O veículo será apreendido e passará por perícia. O médico ainda será ouvido.
A Polícia Civil suspeita que o baleado seja Thiago da Silva Folly, o TH, um dos chefes do tráfico no Complexo da Maré. A polícia acredita ainda que o traficante tenha sido ferido numa troca de tiros com policiais militares do Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE) na Avenida Brasil, altura de Bonsucesso, também na Zona Norte do Rio.
Os agentes faziam uma blitz na pista sentido Centro quando criminosos armados que estavam em um Renault Logan preto desobedeceram a ordem de parada e atiraram contra os policiais. Houve confronto e um PM foi atingido na barriga. Ele foi socorrido e levado para o Hospital Geral de Bonsucesso. O militar foi operado e não corre risco de morte. Durante o cerco aos criminosos, uma equipe do 22º BPM (Maré) apreendeu um fuzil calibre 762 que foi abandonado na saída 9B da Linha Amarela. A arma apreendida pela polícia tem a inscrição “Tropa do TH”.
Em nota, a secretaria estadual de Saúde informou que “os profissionais que passaram por esse momento traumático” receberão todo o apoio necessário.
Presidente da Federação Nacional dos Médicos, Jorge Darze, afirma que o Estado é omisso e que os profissionais de saúde trabalham em risco permanente:
– Acho importante denunciar essas condições de trabalho que afetam diretamente o trabalho da equipe de saúde, principalmente o que envolveu esse médico que dificilmente irá superar esse trauma tão cedo. O Estado é omisso e não garante o que é direito constitucional, a segurança e a saúde. Ficamos em situação de trabalhar no ” fio da navalha” em que as nossas vidas ficam em permanente risco de morte. O Estado tem que garantir as condições seguras não só para esses casos , assim como.para o atendimento dos presos custodiados