Uma proposta polêmica pode mudar a tradição dos grupos de bate-bolas no Carnaval do Rio de Janeiro. O deputado estadual Dionísio Lins anunciou que vai encaminhar ao governador Cláudio Castro um projeto que obriga todos os grupos de bate-bolas a se registrarem oficialmente na Secretaria de Turismo do Estado e a se cadastrarem nas delegacias ou batalhões de Polícia Militar de suas regiões. A medida, semelhante ao que já acontece com os blocos de rua, promete trazer mais controle e segurança para a festa popular.
Se a proposta for aprovada, cada grupo precisará indicar um representante legal, que passará a ser responsável por qualquer ocorrência relacionada aos integrantes durante os desfiles ou encontros. Esse representante será o elo direto entre as autoridades e o grupo, podendo ser responsabilizado civil e criminalmente em caso de incidentes.
Além do registro formal, todos os membros do grupo deverão ser cadastrados, com nome completo, documento de identidade e endereço, na delegacia ou batalhão da área onde pretendem circular. Esse cadastro precisará ser feito com pelo menos 15 dias de antecedência de cada evento em que o grupo participar. Sem essa autorização prévia, os bate-bolas não poderão desfilar ou promover encontros nas ruas.
A justificativa apresentada pelo deputado Dionísio Lins é a segurança pública. Segundo ele, muitos grupos de bate-bolas têm se envolvido em brigas, depredações e até confrontos violentos durante o Carnaval. “Com esse cadastro, caso haja qualquer incidente, essas pessoas poderão ser facilmente identificadas e localizadas, o que vai facilitar muito o trabalho da polícia”, explica o parlamentar.
A proposta divide opiniões. Para muitos moradores de bairros como Campo Grande, Bangu, Madureira e Penha — onde a tradição dos bate-bolas é forte —, a medida pode trazer mais segurança e afastar grupos problemáticos que usam a fantasia como desculpa para praticar atos criminosos. Por outro lado, integrantes de grupos tradicionais enxergam a medida como uma forma de criminalizar a cultura popular e burocratizar uma manifestação espontânea que existe há décadas.
“Isso é uma perseguição aos bate-bolas. O problema é que tem uns grupos que não sabem brincar e acabam estragando tudo. Mas nós, que somos organizados, estamos pagando a conta”, reclamou um integrante de um grupo de Realengo. Já para uma moradora de Madureira, a ideia é válida: “Ano passado vi uma confusão enorme entre dois grupos e sobrou até para quem não tinha nada a ver. Se tiver cadastro e fiscalização, talvez isso melhore.”
Independentemente da polêmica, a proposta deve chegar às mãos do governador Cláudio Castro nas próximas semanas. Se aprovada, pode entrar em vigor já no próximo Carnaval. Para Dionísio Lins, o objetivo não é acabar com os bate-bolas, mas organizar e garantir que a festa seja segura para todos.
Com a medida, o Carnaval carioca pode ganhar uma nova cara, onde tradição e segurança caminham lado a lado — ou, ao menos, é essa a aposta do deputado