Brasília vive um momento explosivo. Na manhã desta segunda-feira, 9 de junho de 2025, o ex-presidente Jair Bolsonaro, aos 70 anos, cruzou as portas do Supremo Tribunal Federal (STF) não como ex-chefe de Estado, mas como réu em um dos processos mais bombásticos da história do Brasil. Ele está no centro de uma investigação que abala as estruturas da República: uma suposta tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva em 2022.
Com olhos do país inteiro voltados para a Praça dos Três Poderes, Bolsonaro compareceu ao STF para prestar depoimento num caso que já vem sendo chamado de “O Julgamento do Século”. A sessão, transmitida ao vivo, está sendo conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, figura central nos embates entre o ex-presidente e a Justiça nos últimos anos.
E não se trata de um simples interrogatório. É a primeira vez que um ex-presidente brasileiro senta no banco dos réus para responder, de forma direta, por um plano golpista articulado nos bastidores do poder. A previsão é de que o depoimento dure vários dias, recheado de perguntas incisivas, documentos sigilosos e revelações de bastidores. O tom já foi dado pelo próprio Moraes: “Não há espaço para omissões diante da democracia.”
“GOLPE” NÃO ESTÁ NO DICIONÁRIO DE BOLSONARO?
Apesar da gravidade das acusações, Bolsonaro se mostrou desafiador. “A palavra ‘golpe’ jamais esteve no meu dicionário”, afirmou com firmeza ao chegar ao STF. Em outro momento, declarou: “Vou responder com a verdade do nosso lado”. Contudo, documentos e testemunhos colhidos pela “Operação Contragolpe”, deflagrada em novembro de 2024, apontam para reuniões estratégicas com militares e ex-ministros, em que se discutiu decretar estado de sítio para interromper a transição de poder.
Segundo depoimentos de oficiais das Forças Armadas, Bolsonaro teria considerado acionar dispositivos constitucionais de exceção — como estado de defesa ou de sítio — com o objetivo de se manter na presidência mesmo após a derrota eleitoral. Essas manobras, no entanto, são autorizadas apenas em situações extremas, como guerra ou grave instabilidade institucional — o que não se aplicava ao contexto eleitoral de 2022.
UMA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA NO CORAÇÃO DO GOVERNO?
Bolsonaro não está sozinho no olho do furacão. Outras sete figuras-chave do seu governo também são investigadas por integrar o que a Procuradoria-Geral da República chama de “organização criminosa com fins golpistas”. O objetivo: minar as instituições democráticas, gerar caos, e inviabilizar a posse de Lula.
Entre os alvos estão generais, ex-ministros e estrategistas políticos do núcleo bolsonarista. O inquérito revelou trocas de mensagens, gravações e esboços de minutas golpistas encontradas em computadores pessoais. Segundo os investigadores, o plano era detalhado, com ações previstas para as Forças Armadas, Polícia Federal e até setores da imprensa.
O FUTURO DE BOLSONARO: CADEIA E FIM DA CARREIRA POLÍTICA?
Se condenado, o ex-presidente pode amargar uma pena de até 40 anos de prisão — uma sentença que o colocaria como o mais duramente punido líder político da Nova República. Além disso, sua inelegibilidade, já decretada pelo TSE até 2030, se tornaria um marco irreversível. A sombra de uma cela, somada ao exílio político, representaria o fim de uma era no bolsonarismo.
Mas a história ainda está sendo escrita. Nos bastidores de Brasília, já se fala em articulações para um eventual indulto presidencial, caso um aliado de Bolsonaro assuma o poder em 2026. O tema é delicado, divisivo e inflamado. Para muitos, conceder perdão seria o mesmo que avalizar o ataque à democracia. Para outros, seria um gesto de reconciliação nacional.
UM JULGAMENTO QUE VAI MUDAR O BRASIL
O julgamento de Bolsonaro não é apenas sobre o passado — é sobre o futuro do país. Nunca antes um ex-presidente foi julgado formalmente por tentativa de golpe de Estado. Nunca antes as instituições democráticas brasileiras foram tão testadas. Com a campanha eleitoral de 2026 no horizonte, este processo pode definir o tom da disputa: legalidade versus ruptura, estabilidade versus radicalismo.
Enquanto Bolsonaro depõe, o Brasil observa em estado de choque. Cada frase, cada silêncio, cada contradição pode se tornar uma manchete — ou uma prova. A democracia está na berlinda. E o país se pergunta: será feita justiça ou testemunharemos mais um capítulo da impunidade brasileira?
Uma coisa é certa: o Brasil nunca mais será o mesmo.