Durante um dos maiores eventos de diversidade do mundo, a Parada LGBT+ de São Paulo, uma fala do padre Júlio Lancelotti repercutiu fortemente nas redes sociais e levantou um importante debate sobre inclusão social dentro da própria comunidade LGBTQIA+.
Conhecido por seu trabalho incansável com pessoas em situação de rua e pela defesa dos direitos humanos, o sacerdote fez duras críticas à forma como a Parada tem tratado a população pobre. Em tom direto e contundente, ele afirmou:
“A Parada LGBT de São Paulo é uma das maiores do mundo, mas reproduz a exclusão, reproduz o descarte. Bonitos despidos estão lá em cima do carro, e os pobres, feios, magros, lutando para sobreviver.”
A fala escancarou uma ferida muitas vezes ignorada: a desigualdade social que persiste mesmo em espaços que pregam diversidade e inclusão. Para Lancelotti, o evento, embora celebre a liberdade e o orgulho, também acaba refletindo as mesmas estruturas de exclusão que a sociedade impõe diariamente — desta vez, dentro da própria festa.
A crítica não foi direcionada ao evento como um todo, mas ao modelo que, segundo o padre, acaba priorizando a estética, o consumo e os corpos que se encaixam em padrões valorizados socialmente, deixando à margem justamente aqueles que mais precisam de visibilidade, acolhimento e apoio: os pobres, os marginalizados, os invisíveis.
Nas redes sociais, o posicionamento dividiu opiniões. Enquanto muitos apoiaram a fala de Lancelotti e ressaltaram a importância de refletir sobre esse tipo de exclusão, outros defenderam a Parada como um espaço de celebração e luta que já carrega múltiplas pautas.
No entanto, a fala do padre toca em um ponto sensível e real: é possível falar de diversidade e orgulho LGBTQIA+ sem olhar para a base da pirâmide social? A inclusão plena passa apenas pela orientação sexual e identidade de gênero ou precisa, também, atravessar a classe social, a raça, o corpo e a condição de vida?
Padre Júlio, que todos os dias enfrenta o preconceito ao lado das pessoas em situação de rua, lembrou que a luta por direitos não pode ser seletiva. E que uma Parada verdadeiramente inclusiva é aquela onde todos têm voz, corpo e espaço — não apenas os que cabem no padrão, mas também os que são esquecidos fora dele.