Em uma decisão que acirra ainda mais os ânimos entre o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto, a Câmara dos Deputados aprovou, nesta segunda-feira (27), o regime de urgência para a análise de um polêmico projeto de lei que pretende classificar as facções criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital) e Comando Vermelho como organizações terroristas. A votação representa um gesto claro de independência do Legislativo e foi vista como um recado direto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já havia sinalizado contrariedade à proposta.
Com a urgência aprovada, o projeto pode ser votado diretamente no plenário, sem passar pelas comissões temáticas, acelerando de forma expressiva sua tramitação. A iniciativa tem ganhado força entre parlamentares da oposição e também de setores do centrão, que alegam que o país enfrenta uma escalada sem precedentes da criminalidade organizada.
O texto do projeto propõe uma mudança na Lei Antiterrorismo (Lei nº 13.260/2016), que atualmente não inclui facções criminosas brasileiras entre os grupos classificados como terroristas. A inclusão do PCC e do Comando Vermelho nessa lista abriria caminho para medidas mais duras por parte do Estado, como o uso de forças armadas, maior rigor nas investigações e penas mais severas.
A reação do governo federal foi de cautela. Integrantes da base governista tentaram obstruir a votação e argumentaram que a tipificação como terrorismo pode gerar riscos jurídicos e consequências indesejadas, como o uso da legislação para criminalizar movimentos sociais. No entanto, o discurso não foi suficiente para barrar a aprovação da urgência, que contou com votos inclusive de partidos que compõem a base aliada.
Especialistas em segurança pública se dividem quanto à medida. Alguns apontam que a nova classificação pode fortalecer o combate ao crime organizado, enquanto outros alertam para o risco de ampliar o aparato repressivo do Estado de forma indiscriminada.
A decisão da Câmara também expõe um cenário de fragilidade política para o presidente Lula, que enfrenta dificuldades para unificar sua base e conter o avanço de pautas conservadoras e de endurecimento penal no Congresso.
Agora, com a urgência aprovada, o projeto pode ser votado a qualquer momento no plenário da Câmara. Caso seja aprovado, seguirá para o Senado Federal. A medida promete gerar novos embates entre os Poderes e reacender o debate sobre segurança, liberdade e o papel do Estado no enfrentamento ao crime.