Em 7 de janeiro de 2018, Tiago Iorc deixou seu último rastro nas redes sociais. É uma foto antiga, acompanhada de um texto em que reflete sobre seu estado de espírito após dez anos de carreira na música. Lá no fim, em um trecho discreto, diz:
“Concluí que um descanso vai me fazer bem.”
O descanso já dura um ano, completado nesta segunda-feira (7). Fãs órfãos daquele coque samurai se perguntam: cadê Tiago Iorc? Seria ele o Belchior desta geração?
Na internet, há quem tenha dito que o cantor passou uma temporada nos Estados Unidos, onde morou na adolescência. Também há boatos de que ele estaria vivendo em uma praia na Bahia. Nada confirmado.
Procurado pelo G1, seu empresário Felipe Simas diz apenas que não há compromissos agendados a curto prazo – e nega dar qualquer outro detalhe.
Tiago Iorc em hotel em Prado, na Bahia, em janeiro de 2018 – antes de sumir de vez — Foto: Reprodução/Instagram/Tiago Iorc
Chega de trocar likes!
Em seu texto de “despedida”, Tiago deu indícios de que estava exausto do exibicionismo das redes sociais. Disse que queria se ausentar da “vida instagrâmica que nos consome”. Uma ironia com o nome de seu último disco, “Troco likes”, de 2015.
Cada passo do cantor era seguido por 2,7 milhões de seguidores, só no Instagram. No auge da exposição, sua vida pessoal – especialmente a amorosa – gerava um rumor atrás do outro.
Costumava brincar com a situação. Com a amiga Tatá Werneck, chegou a forjar um romance nunca oficializado.
Na música, “Troco likes” marcou uma mudança no repertório de Tiago, cuja maioria das letras até então era em inglês (por influência da criação fora do Brasil). O disco lhe rendeu duas indicações ao Grammy Latino e, desde seu lançamento, o cantor fez quase 200 shows.
O trabalho também inaugurou a fase mais bem-sucedida de Tiago. Dados do Google mostram que o pico de pesquisas pelo nome do artista no YouTube foi no ano de lançamento do álbum.
A partir de então, ele se manteve bem posicionado até meados de 2017, quando o interesse começou a cair.
Gráfico do Google mostra curva de crescimento das buscas pelo nome de Tiago Iorc no YouTube, desde janeiro de 2014 — Foto: Reprodução/Google Trends
Mesmo após o auge, Tiago era um dos raros nomes da MPB que conseguiam furar o bloqueio do funk e do sertanejo nas listas de músicas mais ouvidas do país – em 2017, sua “Amei te ver” entrou no top 50 das rádios brasileiras.
Pouco antes, ele produziu o disco de estreia do duo Anavitória, que trilhou caminho parecido. Em uma das entrevistas ao G1, o cantor brasiliense de 33 anos avaliou essa leva de artistas:
“O que diferencia o nosso trabalho é mais o retorno da canção do que uma caracterização com gênero. É fazer música com melodia, letra.”
Antes de sumir, ele viajou em turnê com Milton Nascimento, com quem compartilhou seu último trabalho, a música “Mais bonito não há”, de outubro de 2017.
A letra, composta em parceria pelos dois, fala de dar valor a coisas simples, como “olhar de criança no sol da manhã”, “abraço sereno” e “sabor de perdão”. Coincidência ou não?