Na madrugada desta sexta-feira (3), Campo Grande e Santa Cruz, bairros da Zona Oeste do Rio de Janeiro, foram palco de confrontos que levaram pânico e insegurança aos moradores. O Comando Vermelho, uma das maiores facções criminosas do país, realizou ataques com o objetivo de retomar o controle das comunidades do Antares, em Santa Cruz, e do Barbante, em Campo Grande, atualmente sob domínio de milicianos.
O conflito começou pouco depois da meia-noite e se estendeu até o início da madrugada. No Antares, a ofensiva do Comando Vermelho deixou três milicianos feridos. Apesar da gravidade dos confrontos, nenhuma morte foi confirmada até o momento. Já em Campo Grande, a situação foi ainda mais alarmante, com uma troca de tiros intensa nas proximidades do Instituto Sarah Kubitschek, por volta das 2 horas da manhã.
Madrugada de Terror
Relatos de moradores indicam que a movimentação criminosa começou com o avanço de homens armados em carros e motos, que chegaram disparando contra barricadas e supostos pontos de controle dos milicianos. Segundo testemunhas, os tiros eram incessantes e puderam ser ouvidos a quilômetros de distância.
“Foi um verdadeiro inferno. Meu filho acordou assustado, chorando, porque parecia que a guerra estava na nossa porta. Nós ficamos trancados em casa, com medo até de olhar pela janela”, relatou uma moradora da região do Barbante, que preferiu não se identificar por medo de represálias.
No Instituto Sarah Kubitschek, que fica próximo ao local dos confrontos, pacientes e funcionários também viveram momentos de apreensão. De acordo com um funcionário, que pediu anonimato, alguns pacientes tiveram que ser deslocados para áreas mais seguras dentro da unidade.
Disputa Territorial
As comunidades do Antares e do Barbante têm histórico de disputas entre facções e grupos paramilitares. O Antares, em Santa Cruz, já foi controlado pelo Comando Vermelho, mas caiu sob domínio de milicianos nos últimos anos. A tentativa de retomada parece ser uma demonstração de força da facção criminosa, que busca expandir novamente seu território.
Especialistas em segurança pública apontam que a Zona Oeste do Rio é estratégica para grupos criminosos devido ao grande número de comunidades e à possibilidade de explorar atividades ilícitas, como tráfico de drogas, extorsão de moradores e comerciantes, além de ligações com outros mercados ilegais.
Medo e Incerteza
A noite violenta deixou um rastro de medo e incerteza para os moradores. Nas redes sociais, diversas pessoas relataram o clima de terror, com áudios e vídeos que mostravam o som dos disparos. Escolas próximas aos locais dos confrontos estão avaliando suspender as aulas devido à insegurança, e comerciantes relataram prejuízos pela baixa movimentação pela manhã.
Um morador do Antares, que prefere não se identificar, desabafou sobre o cotidiano de violência: “A gente nunca sabe o que vai acontecer. Pode ser uma noite tranquila ou uma noite de guerra, como essa. É como se a gente vivesse numa roleta russa.”
Respostas das Autoridades
Até o momento, a Polícia Militar não se pronunciou oficialmente sobre os confrontos, mas moradores afirmam que a presença policial na região ainda é limitada. Os moradores cobram maior efetividade do estado no combate ao avanço do crime organizado e à milícia.
Segundo especialistas, a retomada do controle de áreas dominadas por grupos criminosos exige uma ação coordenada entre forças de segurança e políticas públicas que contemplem desde o enfrentamento armado até medidas de inclusão social.
O que esperar?
A tentativa do Comando Vermelho de voltar com força para Campo Grande e Santa Cruz escancara a fragilidade do controle territorial na região e a força crescente das facções criminosas. O episódio desta madrugada serve como alerta para as autoridades, que precisam agir rapidamente para evitar novos confrontos e proteger a população.
Enquanto isso, os moradores seguem vivendo em um cenário de incerteza, temendo que o próximo tiroteio esteja ainda mais próximo de suas casas.