No Brasil, especialistas têm observado um fenômeno crescente: o aumento de homens que mantêm relações sexuais ou afetivas com outros homens, mas continuam se identificando como heterossexuais. O comportamento, que rompe fronteiras tradicionais entre identidade e prática, tem despertado atenção de psicólogos, sociólogos e profissionais da saúde pública.
A psicóloga Isadora Wandermurem alerta que o uso frequente do termo “heterossexual com práticas homoafetivas” pode contribuir para a invisibilização da bissexualidade, reforçando estigmas e dificultando o reconhecimento de identidades plurais. “Quando esses homens rejeitam o rótulo de bissexuais, mesmo tendo experiências afetivas ou sexuais com outros homens, estamos diante de um conflito entre desejo, identidade e pressão social”, explica.
No campo da saúde pública, entretanto, o foco é mais pragmático. Profissionais utilizam a sigla HSH (Homens que fazem sexo com homens), uma categoria criada para descrever comportamentos sexuais sem se prender à orientação declarada. Essa classificação é essencial para pesquisas e políticas de prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, como o HIV, uma vez que muitos desses homens não se consideram parte do público-alvo tradicional das campanhas.
O fenômeno também reflete transformações culturais e o impacto das redes sociais, onde fronteiras entre amizade, desejo e identidade se tornam mais fluidas. Ainda assim, especialistas ressaltam a importância de debater o tema com empatia e informação, evitando rótulos simplistas. “O importante é compreender que a sexualidade é diversa e não deve ser reduzida a caixas fixas”, conclui Isadora.
Esse debate, embora delicado, é essencial para compreender as novas dinâmicas de gênero e sexualidade que emergem na sociedade contemporânea brasileira.



