Gay assumida, Karol Eller se destacou na internet por defender o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Também chamou a atenção na rede por criticar o “vitimismo” da comunidade LGBT.
Pois quis o destino que a própria youtuber sentisse no corpo a violência decorrente da intolerância. Karol Eller tornou-se uma vítima porque o preconceito desconhece fronteiras ideológicas.
Na verdade, o ódio social ignora limites. A mesma intransigência que rasga o rosto de uma gay pode machucar ou matar um negro, um maconheiro, uma imigrante ou um adversário político.
O vizinho preconceituoso contra quem gosta de funk, por exemplo, é um potencial agressor contra um fã de Ludmilla que mora na casa ao lado – seja branco, negro ou indígena. O problema seria a música.
Mas a intolerância também pode fazer vítimas religiosas, por exemplo. Sejam de denominação judaica, muçulmana, cristã ou de matriz africana. O ódio, quando arraigado, não tem crença.
A intolerância pode ser contra os pobres, mas também contra os ricos, contra um comunista, mas também contra um direitista. Sem respeito social, ninguém se entende e todos se agridem. Não se constrói um país assim.
Mais evidente em tempos de redes sociais, o fenômeno da intransigência atravessa os séculos, destrói culturas e provoca guerras. Nascido no final do século XIX, o dramaturgo alemão Bertolt Brecht tratou do tema no impactante poema É preciso agir:
“Primeiro levaram os negros/Mas não me importei com isso/Eu não era negro/Em seguida levaram alguns operários/Mas não me importei com isso/Eu também não era operário (…)
Agora estão me levando/Mas já é tarde/Como eu não me importei com ninguém/Ninguém se importa comigo”.





