A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) mergulhou em mais um caso que estampa a tragédia cotidiana do Rio de Janeiro. Na madrugada desta quarta‑feira, 18 de junho de 2025, o cabo da Polícia Militar Alan César Elidio de Sá, de 42 anos, foi assassinado durante uma tentativa de assalto em Guadalupe, Zona Norte da cidade. O crime ocorreu por volta das 2h, na altura da estação de BRT de Guadalupe, sentido Zona Oeste, em plena Avenida Brasil — uma das vias mais movimentadas (e perigosas) do país.
Segundo relatos de testemunhas, o policial — que voltava para casa após o serviço — foi cercado por criminosos armados com fuzis. Mesmo de folga, Alan reagiu ao perceber que tomariam seu veículo e, possivelmente, sua vida. Em questão de segundos, a troca de disparos ecoou na escuridão da madrugada. Baleado, o cabo sucumbiu ainda dentro do carro. Os assaltantes fugiram levando a pistola da vítima, apagando‑se no labirinto urbano antes que qualquer patrulha conseguisse fechar o cerco.
Militares do Corpo de Bombeiros do quartel de Ricardo de Albuquerque chegaram rapidamente, mas já encontraram Alan sem sinais vitais. A cena foi isolada e peritos da DHC recolheram cápsulas, imagens de câmeras de trânsito e depoimentos de moradores na tentativa de reconstituir o passo a passo da execução. A viatura funerária deixou o local ao amanhecer, levando não só um corpo, mas mais um capítulo doloroso para uma estatística alarmante.
Alan César Elidio de Sá era casado e pai de dois filhos pequenos. Colegas de farda o descrevem como dedicado, de sorriso fácil e apaixonado pela profissão, apesar dos riscos diários do patrulhamento ostensivo. “Era um cara que acreditava na farda; nunca recuava quando se tratava de proteger a população”, lamentou, emocionado, um tenente que pediu anonimato. Em redes sociais, familiares e amigos publicaram homenagens e pedidos de justiça, enquanto a corporação decretou luto oficial.
Os números confirmam que a morte do cabo não é caso isolado. De acordo com levantamento do Instituto Fogo Cruzado, somente nos seis primeiros meses de 2025 já foram baleados 61 agentes de segurança na Região Metropolitana: 32 morreram e 29 ficaram feridos. O índice representa um aumento de 35 % em relação ao mesmo período de 2024, quando 45 agentes foram atingidos (19 mortos, 26 feridos). Especialistas apontam a expansão do crime organizado, o poderio bélico das facções e a carência de políticas de segurança eficazes como fatores‑chave para a escalada.
Para o sociólogo Frederico Paes, a repetição de casos na Avenida Brasil expõe uma rota dominada por quadrilhas que atuam em múltiplos delitos: “Trata‑se de território estratégico para tráfico, roubo de carga e assaltos. Sem ações integradas de inteligência e presença policial permanente, continuaremos contabilizando vítimas.”
Em nota, a Polícia Militar lamentou “profundamente a perda de mais um guerreiro” e informou que esforços conjuntos com a Polícia Civil e a Secretaria de Segurança visam identificar e prender os responsáveis. A corporação também garantiu apoio psicológico e financeiro à família de Alan.
Enquanto a investigação tenta ligar pontos entre câmeras, rastros de balística e possíveis informantes, moradores de Guadalupe convivem com o medo. Na mesma madrugada, relatos de tiros espalharam pânico nas comunidades vizinhas, evidenciando que o barulho dos fuzis não se encerrou com a morte do cabo.
O enterro de Alan César acontece nesta quinta‑feira (19), no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, com honras militares. Mais um cortejo, mais lágrimas, mais uma família destruída — e uma pergunta que ecoa: até quando? Cada agente caído simboliza não apenas a dor de quem fica, mas a fragilidade de um sistema que ainda não aprendeu a blindar aqueles que juram protegê‑lo.