Uma descoberta histórica e ao mesmo tempo dolorosa veio à tona em Salvador (BA). Arqueólogos identificaram, sob o solo de um estacionamento, um antigo cemitério que abriga os restos mortais de mais de 100 mil pessoas escravizadas. O local, que passou despercebido por séculos, deve se transformar em um sítio arqueológico e memorial dedicado à preservação da memória afro-brasileira.
De acordo com especialistas, o espaço era utilizado entre os séculos XVIII e XIX para enterrar pessoas negras que chegavam ao Brasil trazidas à força do continente africano. Muitos morreram antes mesmo de serem vendidos ou durante os primeiros meses de trabalho nas fazendas e portos da capital baiana, que foi o principal ponto de entrada de escravizados do país.
O terreno, hoje utilizado como estacionamento, passará por um processo de escavação e estudo detalhado conduzido por arqueólogos, historiadores e representantes de comunidades quilombolas e do movimento negro. A iniciativa busca dar dignidade e reconhecimento às vítimas da escravidão, cujas histórias foram apagadas pela urbanização e pelo descaso histórico.
A prefeitura de Salvador, em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), anunciou que o local será transformado em um memorial da resistência e da ancestralidade africana, aberto ao público e com espaços educativos, exposições permanentes e centro de pesquisa.
“É uma oportunidade de resgatar a história real do Brasil, marcada por dor, mas também por resistência e cultura”, destacou uma das arqueólogas envolvidas na descoberta.
A revelação reforça a importância de se preservar locais de memória e reconhecer o papel fundamental da população negra na formação do país — um passado que, finalmente, começa a ser trazido à luz.



