Hoje em dia, muito se fala sobre a presença dos influenciadores digitais nas redes sociais. Essas personalidades cativam a confiança dos seguidores, que se tornam compradores em potencial. O Instagram já provou que é uma das principais apostas das marcas para se aproximarem da clientela. No entanto, formar opinião não é uma tarefa simples: exige dedicação, pesquisa e criatividade.
Segundo pesquisa realizada neste ano pelo Instituto QualiBest, com mais de 4 mil internautas brasileiros, 81% dos jovens até 19 anos seguem algum influenciador digital. Destes, 49% já dão mais ouvidos às dicas dos criadores de conteúdo do que aos amigos ou parentes, que ainda são a principal referência.
Entre os entrevistados, 55% procuram a opinião de algum influenciador para tomar decisões, enquanto 86% conheceram algum produto por meio deles. Já sobre as compras, 73% concretizaram depois da indicação de alguma personalidade influente. Moda é a terceira categoria de produtos mais citada entre as mulheres.
Para entender melhor o trabalho das formadoras de opinião, a coluna entrevistou algumas profissionais em destaque, além da responsável pela primeira plataforma de influencers no mundo, Alice Ferraz. Influenciadora, blogueira e criadora de conteúdo são a mesma coisa? Será que a vida dessas personalidades, em meio a todo o glamour das fotos, é fácil, como muitos pensam?
Vem comigo descobrir!
A empresária paulista Alice Ferraz atua há mais de 20 anos na área, é escritora e percorre o Brasil com palestras e participações em eventos fashion. Criou, em 2011, a F*Hits, uma mídia house de moda e lifestyle do mundo, que reúne diversos blogs e influenciadoras digitais. Entre elas, algumas das mais destacadas no circuito nacional, como Luiza Sobral e Helena Lunardelli.
Apesar da visão preconceituosa que parte dos internautas têm, a empresária e blogueira defende a função enquanto serviço profissional. Oito anos atrás, quando a plataforma estava em fase de criação, a aceitação da nova ideia ainda não era das melhores.
“Planejamos muito e não fomos recebidos da mesma maneira pelo mercado, que não estava acostumado a isso como um trabalho. Tinha de ser 100% espontâneo, como se fosse um hobby, e não era verdade. Desde o primeiro momento, era um trabalho”, justifica. Hoje, o cenário é bem diferente: “Agora, oito anos depois, as marcas sabem que dá um retorno. As pessoas ganham dinheiro com isso.”
Naquela época, as plataformas de atual sucesso on-line ainda estavam nascendo ou ganhando relevância. O Twitter ainda se limitava aos 140 caracteres, o Facebook tomava o lugar do Orkut e o Instagram havia acabado de sair do forno, com exclusividade para quem usava telefones da Apple. Os blogs eram a plataforma ideal para o conteúdo de lifestyle que estava sendo produzido.
Atualmente, o termo influenciadora digital, que vem do inglês digital influencer, é a forma mais usada para descrever a função, já que pode explorar diversas plataformas. “Virou influenciadora digital porque hoje em dia temos as mídias sociais digitais. Se tinha blog, era blogueira, mas já era um trabalho”, argumenta Alice.
O grande segredo por trás do sucesso não está no número de seguidores que cada perfil expõe. Ter milhões de pessoas acompanhando as atualizações diárias faz parte, é claro, mas não é o principal demonstrativo de um bom trabalho.
Já quando se trata da ferramenta do momento para esse serviço, a grande aposta é o InstaStories. No blog ou no feed do Instagram, você vê o que já aconteceu. O Stories revela os bastidores: a situação no presente e o passo a passo de como o conteúdo foi construído.
“É como se desse uma veracidade. Hoje, estou em Brasília, depois de amanhã vou contar no blog que estive, mas você viu que eu vim. É como se fosse uma teia de informação que a pessoa vai realmente saber”, diz a empresária.
Dessa forma, a interação funciona como uma rede: se o seguidor se interessa pelo conteúdo e quer mais profundidade, vai conferir o post do blog ou o vídeo do YouTube. “São graus de profundidade, mas tudo vira uma grande teia de entretenimento”, complementa Alice.
It girls
Apesar de serem muito confundidas, existe uma diferença significativa entre ser uma influencer e uma it girl. “Por que não temos it girls? Porque a it girl é aquela menina que não faz aquilo para o trabalho. A diferença da Olivia Palermo para a Paris Hilton. Olhando, ela parece uma, mas ela trabalha. A Paris Hilton, não”, diferencia. “Uma coisa é você estar num desfile em Paris, outra é pegar um avião e ir a Recife, Curitiba, ficar em um palco no meio do shopping falando.”
Uma das F*Hits, Helena Lunardelli acrescenta que uma it girl não necessariamente tem uma informação mais aprofundada, diferentemente da influencer. De qualquer forma, uma coisa não impede a outra. Para Helena, a rede social ideal para o futuro integraria de uma forma mais interativa o conteúdo multimídia, além de trazer de volta a força do blog.
Preconceito
Quem enxerga a atividade com olhar preconceituoso, como uma vida glamourosa e sem grandes esforços, pode estar bem enganado. Segundo Helena, ser uma influenciadora se baseia somente em criar uma conta no Instagram e se autointitular assim. Por trás da câmera, há pesquisa e estudo. O glamour é uma consequência.
“Óbvio que tem a parte do glamour, das viagens, dos presentes, da roupa nova. Isso tudo é uma parte boa e a que a gente mostra. A parte mais difícil, do cansaço, da falta de privacidade, de ter que fazer um milhão de coisas ao mesmo tempo, não mostramos, mas é o que acontece. Como qualquer outro trabalho, tem os dois lados”, justifica Helena.
Influenciadoras da capital
A influenciadora brasiliense Denise Gebrim é acompanhada quase 400 mil seguidores no Instagram. Entre as imagens, podemos conferir fotos em praias, looks do dia e registros em família. Ela acredita no poder imagético do Instagram e vê na ferramenta uma forma de “botar no radar” as novidades que a capital tem a oferecer. Em novembro, inclusive, anunciou que estaria à frente de um programa de TV.
Para Denise, o grande segredo está em mostrar a verdade. “Tento usar coisas que têm a ver comigo, que realmente combinam com meu estilo de vida. Temos de ter a responsabilidade de sabe que atingimos muitas pessoas”, alerta. Além disso, explica que o trabalho comercial das influencers exige muito cuidado. “É uma responsabilidade, porque o poder que temos de colocar para cima ou depreciar um produto, se for o caso, é muito grande”.
Até então, ela diz nunca ter enfrentado críticas sobre a escolha profissional. “Acho que depende da forma que você leva a vida, porque é um trabalho muito duro. Passamos muito tempo fora de casa, a ansiedade a mil, gastamos muito tempo para produzir conteúdo, pesquisar coisas, aplicativos”, avalia.
Para a F*Hits Friend Aline Sanromã, a base da influência digital está em inspirar pessoas. “Acho que esse trabalho não tem a menor lógica se não trouxermos algo positiva, que engradeça a vida de alguém”, observa.
Aline diz ter um público formado por mulheres empreendedoras e acha que Brasília é “muito mais do que um terninho”, como muitas vezes as brasilienses são tachadas.
“Nós somos mulheres conectadas, super ligadas em moda e tendência. Estamos carentes de discutir moda na cidade. Precisamos fomentar a moda ao alcance de todas, mas com conhecimento e empoderamento, para que você possa usufruir desse conhecimento, melhorar como pessoa e marca”, assegura a comunicadora.
Dicas
De acordo com Aline, o trabalho de influencer é, antes de tudo, sobre ser a própria marca, um verdadeiro trabalho de posicionamento. “Olham o branding como o da Coca-Cola, Heineken, só grandes marcas, mas nós somos uma marca e temos que zelar por ela. Branding é o que falam quando você não está na sala”, observa. Para quem deseja investir na profissão, a comunicadora indica estudar bem como funciona o segmento, e ter muita autenticidade. Ou seja, montar um personagem não adianta.
Apesar do fluxo de publicações parecer natural, Helena Lunardelli alerta para a importância da assiduidade, que exige muito trabalho. Além disso, novidades não podem faltar. O segredo é ficar atento e procurar se destacar. “Ninguém quer ver coisa velha e a gente não tem férias. Então, é trabalhar bastante. Quando você faz um trabalho bacana, busca um diferencial, não adianta ser mais uma”, finaliza.
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Colaborou Hebert Madeira